quinta-feira, 15 de outubro de 2015

TEXTO 274/2O15 / SONHO DE BAILARINA /CONTO





 

           Marina era uma criança encantadora. Loira, cabelos cacheados, olhos castanhos esverdeados que mudavam a tonalidade de acordo com a cor da roupa que vestia acentuando o tom de verde.

           Esperta, alegre, vaidosa por natureza e devido ao incentivo da família. Primeira filha e neta de ambos os lados, por consequência, uma princesa com um séquito de súditos a seu dispor, entre avós e tios. Fácil adivinhar que disto resultaria muito mimo, muitos afagos e presentes e é óbvio manhas, também.

                A mãe trabalhava e ela passou a ficar com a avó materna, o avô, a bisavó e uma tia avó, todos do lado materno, que se revezavam em cuidados e atenção depois que a mãe retornou ao trabalho após seu nascimento.

                 Marina cresceu cheia de saúde, de atenção e muitos desejos.

                 Aos quatro anos foi para o maternal, onde se encantou com o espaço, com os amiguinhos e com a tia. Era muito meiga, mas de gênio forte, Sabia o que queria. Estranho para uma menininha de, apenas, quatro anos de idade. Via desenhos na televisão, olhava livrinhos que ganhava e a partir daí começou a esboçar seus desejos mais fortemente.

                   Fez a pré escola com cinco anos e aos seis entrou na primeira série. Na formatura da pré escola foi escolhida oradora. Suas palavras foram pronunciadas observando os desenhos feitos em uma folha de ofício. Foi inquirida sobre o que queria dizer e seu desejo foi transformado em desenhos a fim de lembrar-se do que deveria falar.

                 A próxima etapa foi realizar seu sonho: dançar balé. Foi matriculada em uma escola de balé muito conceituada na cidade, de onde já saíram bailarinas que já dançaram no teatro municipal do Rio de Janeiro e, também outra selecionada para o Bolshoi.

                   As aulas de balé para iniciantes eram no turno inverso da escola. Como ela estudava à tarde, esta atividade era de manhã, às dez horas. `

                   As meninas iniciam cedo nesta aprendizagem o que muitas vezes pode dar conflitos em função da imaturidade, o que é natural.

                   A menina desejava, era seu sonho, como ela costumava exprimir em gestos um tanto teatrais.

                    A avó a levava duas vezes na semana, mas com certa dificuldade de ela levantar cedo e estar lá no horário.

                     Ao final do ano a apresentação da escola incluiu as iniciantes e lá estava ela de sapatilhas e vestida de camponesa.  Uma pequena participação a título de incentivo às crianças.

                      No ano seguinte o imaginado era que ela estaria mais madura e não teria mais a dificuldade em levantar cedo nos dias de aula de balé, mas a situação foi pior.

Cada dia uma conversa a fim de saber o motivo de tanta incomodação e dificuldade de levantar cedo. Afinal, se era seu desejo, seu sonho e não estava lá obrigada, não fazia sentido tanto sofrimento dela que ia aborrecida e com reclamações. Isto durou os dois  meses iniciais, até que a vó sentenciou: Se na   próxima aula chorares ao levantar tua matrícula será cancelada, pois o que deveria ser um  prazer  para as duas acabava sendo uma tortura.

                   E assim foi feito. Ela não foi mais a aula. Chorou muito e disse que a avó estava acabando com o sonho dela. A avó aproveitou o momento e conversou com ela   a respeito da importância dos sonhos para a realização de cada um e que naquele momento ela não estava demonstrando maturidade suficiente por ser muito novinha para assumir um compromisso tão importante.  Os sonhos devem ser batalhados para ter sentido na vida de cada pessoa. Ao ficar maior se desejasse e tivesse mais compreensão ela retornaria.

              Ao ficar maior foi fazer dança contemporânea na escola e se divertia fazendo isso, sendo motivo de prazer o desempenho de tal atividade. Também entrou para o CTG da escola, Centro de Tradições Gaúchas onde foi aprender as danças típicas do sul.

              Dançou uns dois anos e no dia que trocaram os horários de ensaio do fim da tarde para os sábados de manhã ela disse que não iria mais.

             À medida que foi crescendo foi ficando mais tímida, mais quieta, mas muito responsável e ri das coisas que fazia na infância.  

             Hoje é uma mocinha linda, com dezesseis anos fazendo o ENEM para ingressar na universidade. A dança? Foi só um sonho de menina, mas como este era o último ano de colégio fez questão de dançar na quadrilha dos terceiros anos da escola e convocou a família inteira para assistir.

               Como é muito nova, quem sabe um dia a dança entre em sua vida, de uma forma diferente, alternativa e prazerosa. Só o tempo dirá.

                                          Isabel C S Vargas

                                           Pelotas/RS/Brasil

                                              15.1O.2O15



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