quinta-feira, 8 de outubro de 2015

PUBLICAÇÃO DIÁRIO DA MANHÃ 4O/2O15 /OUTROS TEMPOS

                                                       OUTROS TEMPOS

 

           Cresci em uma época que saudar a pátria era algo muito importante, fazia parte dos valores transmitidos em casa pela família e reforçados na escola pelos professores. Independia de quem fosse o governante. Respeitavam-se as instituições.

            Aprender a cantar o Hino Nacional, Hino da Independência, Hino à Bandeira, Hino Rio-grandense era parte do currículo e ensinado nas aulas de música. Sim, havia professora de música nas escolas públicas que eram ótimas. Podíamos cantar no Orfeão e tivemos professores inesquecíveis.

             Marchar na Semana da Pátria era ótimo e ser comandante de pelotão era o máximo, pelo menos para mim que nunca tive a alegria de ser escolhida para tal.  Comecei a aprender a lidar com as minhas frustrações e não foi nada que me deixasse sequelas. À noite havia a Parada Atlética e desfilavam os que fizessem parte de alguma atividade e que desejassem. Eu adorava fazer parte disso tudo.

              A interação com as outras escolas era fantástica.  As escolas tinham Banda Marcial. Nas escolas femininas as bandas eram só de mulheres.  Os pelotões das bandeiras eram maravilhosos. Rapazes e meninas desfilavam com orgulho e muito garbo.

               Cada escola tinha seu dia de hastear a bandeira, às 8h da manhã ou arriá-la às dezoito horas no Altar da Pátria. Ensaiávamos durante seis meses, a marchar, a ter filas retinhas, com alinhamento. Nada de brincadeiras e sim postura e respeito.

               No dia da Parada da Juventude desfilavam todas as escolas. Uma maravilha.

               As ruas por onde havia o desfile ficavam lotadas de público a aplaudir a performance dos desfilantes.

               Com o advento da ditadura militar isso tudo começou a morrer. Lembro que fiz questão de desfilar em meu último ano de Escola Normal, o Ensino Médio de hoje, porque no ano seguinte já contava como certo o meu ingresso na Universidade. Isto ocorreu em 197O. Não sei precisar o ano em que deixou de ser obrigatório o desfile das escolas com sua totalidade de alunos. Era uma forma velada de protesto. Foi morrendo aos poucos aquela festa da Pátria tão popular e integrativa. Diminuiu a representatividade das escolas. Não mais se ensinava a marchar. O mundo mudou, muitos valores se perderam.

               O professor era respeitado incondicionalmente. Ao entrar na sala de aula, os alunos levantavam em sinal de respeito. Costumava-se dizer que nas cidades pequenas, as pessoas mais importantes eram o prefeito, o vigário e o professor, sem esquecer o médico, o advogado e o dentista naquelas que possuíam.

                Foram criadas as Olimpíadas internas nas escolas em lugar dos desfiles da juventude. Nessas procurou-se desenvolver a solidariedade e a cooperação com campanhas em prol dos mais necessitados.

             Hoje as bandas das escolas quase não existem em função de diversos fatores, como o financeiro, a falta de professores na área, mudança de interesses, falta de valorização da importância disso nas escolas como fator de formação integral do aluno, associado às humanidades, espiritualidade, filosofia, sociologia, mais recentemente reintegradas ao Ensino Médio.

             A moda é outra e, inclusive, aluno de escola particular tem sua formação no ensino médio voltada para o ingresso na universidade, gerando uma grande competição e grande fator de estresse emocional.

            Para os jovens o relatado acima deve ser algo fora de contexto, mas para quem viveu isto a lembrança é  ótima e dá saudade da juventude de outrora.
                                                         Isabel C S Vargas

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