sexta-feira, 27 de novembro de 2015

PUBLICAÇÃO PREMIADA/ ANTOLOGIA 69/ CONTO/SEGUNDO LUGAR / CADEIRA DE BALANÇO, TESTEMUNHA DE UMA VIDA


                            Mariana era uma moça de muitas habilidades. Era de uma família abastada. Aprendeu em casa com a mãe, a avó e a velha doméstica que auxiliara na sua criação. Era quase uma mucama dos tempos do século XVIII. Dava banho na menina, arrumava seus cabelos e cozinhava para ela as coisas especiais que desejava.
                           Quando ficou moça casou com um jovem de outra cidade, muito novo e sem grandes conhecimentos, mal completara o ensino básico. Casaram e ele toda a vida trabalhou nas coisas que lhe tocaram de herança.
                            Era ciumento, não sei se em virtude de sua condição ou se por gostar demais.
                            Sua vida mudou e já não tinha os luxos de quando era solteira. Cozinhava, lavava, passava, tricotava e fazia muitos doces. Era sua especialidade a fim de bem receber todos que a visitavam.
                          Ele almoçava e logo saía para o posto de gasolina o qual ele tomava conta em conjunto com o sogro e outro sócio.
                          A ela restava a sesta sozinha. Mas, apesar disso ela se deliciava com isto. Tinha uma cadeira de balanço que era de sua mãe e ficara com ela. No verão ela colocava sua cadeira favorita no quintal, embaixo de uma extensa parreira que eles tinham e que ficava carregada de uvas.
                          Ali ela se entregava ao descanso, debaixo do parreiral onde corria uma brisa gostosa e uma sombra que a protegia do calor e do sol a pino nas tardes quentes. E o cheirinho da uva madura era algo fantástico. Entregava- se às recordações da vida de solteira e ali adormecia.
                          Quando acordava, geralmente depois de um sonho bom, estava refeita, alegre e dava seguimento aos seus afazeres,
                           No inverno era diferente, A cadeira ia para a sala da casa, próximo à janela de onde divisava o movimento da rua, Ali ficava a fazer crochê, tricô, costurar e vendo o movimento da vizinhança. A janela era um  porta envidraça na sacada que permitia enxergar tudo na rua sem necessidade de abri-la, Quando desejavam privacidade fechavam os  postigos ou puxavam as cortinas,
                            Todas as tardes recebia visita  da irmã ou da prima, e assim ficava a jogar conversa fora, falando de amenidades, servindo um docinho, como arroz de leite, ambrosia, doce de batata, pudim de leite ou de laranja e ainda tricotando lãs e recordações no suave embalo de sua cadeira de balanço que usou durante toda sua vida e que após seu falecimento ficou com  o filho mais novo.
                               Quando o marido adoeceu a cadeira de balanço mudou de lugar mais uma vez e ficava no quarto , assim ela fazia companhia a ele

                                           Isabel C S Vargas
                                           Pelotas/RS/Brasil
                                            18.11.2O15



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