RAQUEL A PARTEIRA
DO REBOZO BRANCO (CONTO)
Raquel era uma mulher que não passava sem ser notada em lugar algum, devido a sua alta estatura e pelo excesso de peso. Proporcional ao seu tamanho era sua bondade e energia.
Raquel era uma mulher que não passava sem ser notada em lugar algum, devido a sua alta estatura e pelo excesso de peso. Proporcional ao seu tamanho era sua bondade e energia.
Era afrodescendente e tinha o costume de usar turbantes coloridos.
Trabalhava em um hospital da região e sua profissão era
parteira. O hospital era administrado por freiras. Ela como não era freira não
podia usar hábito como elas. Passou, então a usar um rebozo branco, diferente
dos coloridos, para não chamar a atenção, o que a distinguia dos demais funcionários. Em outras épocas, principalmente, na que ela
trabalhava, as mulheres tratavam com a parteira para atende-las no hospital, independente,
de serem atendidas pelo obstetra. Assim, elas chegavam ao hospital e quem as
atendia, verificava a situação era a parteira, no caso, Raquel. Quando
estivesse mais próximo do parto, o médico era chamado.
Raquel era conhecida e amada por todos. Quem a olhava não
pensaria jamais em associá-la a qualquer doença. Parecia uma fortaleza. Atendeu
em seu ofício dezenas de situações diversas, a ponto de certa ocasião uma
mulher chegar ao hospital dando à luz, trazida por um táxi e ela aparar a criança
na maca com o rebozo que tirou de si e ali enrolá-la e encaminhar para o
atendimento devido junto com a mãe.
Tinha mais contato com os filhos de outras mulheres do que
com seus próprios filhos cuja avó ajudava nos cuidados. Passaram-se os anos
nesse ofício e ela por viver em meio a médicos pedia uma opinião a algum
conhecido, quando se sentia adoentada, se automedicava, pois nas conversas
dentro do hospital aprendia o que tomar para dor sem nunca se preocupar em
tirar um tempo para ela consultar.
Um dia foi Raquel ao hospital levada pelos filhos e marido
em situação muito dolorosa. Aí já não havia quase nada a ser feito. Raquel foi
diagnosticada com câncer em estágio avançado, espalhado para vários órgãos e
pouco tempo depois faleceu.
Até hoje, quem trabalhou com ela ou quem foi
atendido, lembra da extrema dedicação para com os outros e o total descuido com
sua própria saúde.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
15.05.2016
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