CADEIRA DE BALANÇO, TESTEMUNHA DE UMA VIDA./CONTO
Mariana era uma moça de muitas
habilidades. Era de uma família abastada. Aprendeu em casa com a mãe, a avó e a
velha doméstica que auxiliara na sua criação. Era quase uma mucama dos tempos
do século XVIII. Dava banho na menina, arrumava seus cabelos e cozinhava para
ela as coisas especiais que desejava.
Quando ficou moça casou com um jovem de outra cidade, muito novo e sem
grandes conhecimentos, mal completara o ensino básico. Casaram e ele toda a
vida trabalhou nas coisas que lhe tocaram de herança.
Era ciumento, não sei se em virtude de sua condição ou se por gostar
demais.
Sua vida mudou e já não tinha os luxos de
quando era solteira. Cozinhava, lavava, passava, tricotava e fazia muitos
doces. Era sua especialidade a fim de bem receber todos que a visitavam.
Ele almoçava e logo saía para o posto de gasolina o qual ele tomava
conta em conjunto com o sogro e outro sócio.
A ela restava a sesta sozinha. Mas, apesar disso ela se deliciava com
isto. Tinha uma cadeira de balanço que era de sua mãe e ficara com ela. No
verão ela colocava sua cadeira favorita no quintal, embaixo de uma extensa parreira
que eles tinham e que ficava carregada de uvas.
Ali ela se entregava ao descanso, debaixo do parreiral onde corria uma
brisa gostosa e uma sombra que a protegia do calor e do sol a pino nas tardes
quentes. E o cheirinho da uva madura era algo fantástico. Entregava- se às
recordações da vida de solteira e ali adormecia.
Quando acordava, geralmente depois de um sonho bom, estava refeita,
alegre e dava seguimento aos seus afazeres,
No inverno era diferente, A cadeira ia para a sala da casa, próximo à
janela de onde divisava o movimento da rua, Ali ficava a fazer crochê, tricô,
costurar e vendo o movimento da vizinhança. A janela era uma porta envidraça na
sacada que permitia enxergar tudo na rua sem necessidade de abri-la, Quando
desejavam privacidade fechavam os postigos ou puxavam as cortinas,
Todas as tardes recebia visita da irmã ou da prima, e assim ficava a
jogar conversa fora, falando de amenidades, servindo um docinho, como arroz de
leite, ambrosia, doce de batata, pudim de leite ou de laranja e ainda
tricotando lãs e recordações no suave embalo de sua cadeira de balanço que usou
durante toda sua vida e que após seu falecimento ficou com o filho mais novo.
Quando o marido
adoeceu a cadeira de balanço mudou de lugar mais uma vez e ficava no quarto,
assim ela fazia companhia a ele
Isabel C S
Vargas
Pelotas/RS/Brasil
18.11.2O15
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