Sempre
procurei ser uma pessoa alegre e otimista, cultivando meus sonhos e fazendo
planos. Em uma infância com
dificuldades, via na adolescência uma transposição da fase difícil. Assim foi.
As amigas foram uma benção e coloriram minha etapa de vida escolar no ensino
hoje denominado de fundamental. Não via dificuldades e empecilho para cultivar
meus sonhos juvenis como quem cultiva flores. Colocava a semente em meu coração
e ia em busca de cada um deles.
Passando
ao ensino médio fui fazer o vestibular para a escola normal, magistério, para
ser professora. Nem uma hepatite que me deixou trinta dias acamada me impediu
de fazer a prova e passar. Uma semente começava a brotar e se transformaria em
um buquê lindo e colorido, pois entrei na escola normal e antes de me formar já
dava aula em uma escola vinculada a Universidade. Lá permaneci alguns anos até
concluir a universidade. Achava graça quando as pessoas diziam que tudo corria
fácil e eu conseguia o que almejava. Não viam que cada conquista fora batalhada
e que era fruto de sementes plantadas, regada com suor e cuidadas com muito
carinho, principalmente por minha mãe que cuidava de meus sonhos como se fossem
dela e, na realidade, eram porque ela se projetava em mim.
Fui
vivendo com alegria e recebendo as flores que a vida me proporcionava:
realização, profissional, maternidade, crescimento de meus filhos, a realização
dos sonhos de cada um deles.
Por
volta dos cinquenta e cinco anos comecei a ter perdas significativas. Minha tia
que me ajudara a cuidar dos filhos, minha mãe , evento que me
abalou as estruturas
tanto física como emocional e minha madrinha. Fui resistindo uma a uma e ainda
tinha ânimo para ver a beleza da vida e das estações. Continuava observando as
belezas da natureza e da criação divina até que a vida me testou da forma pior
que poderia acontecer. Perdi meu menino de vinte e três anos, no auge da carreira
profissional, aprovado em concurso público e professor de uma conceituada
instituição federal. Neste momento pior de minha vida fui escolher flores para
ele. Achei que minha vida tinha acabado, mas continuei a me dedicar as minhas
filhas, minha neta que junto com meu marido estavam à deriva. Agarramos-nos à
vida e a esperança de que um dia entenderíamos o que se passava. A sabedoria
advinda da dor me ensinou que mesmo que não entendamos temos que aceitar o que
não pode ser mudado. Antes de perder meu marido, recebi da vida não cravos de
espinho, mas o mais belo fruto de uma semente de amor. A vida se renovava em meu neto Otávio,
mostrando a beleza da vida e dos seus ciclos que não tem fim. A alegria encheu
nosso coração e, novamente a primavera passou a residir em nossos corações
esperançosos. E, para mostrar como devemos acreditar na luz, nasceram os gêmeos
Francisco e Augusto, a princesinha Amanda que enchem nossa vida de cor, de
sentido, de amor.
Seu quarto tem como motivo de decoração um jardim coberto de
flores. Idéia acertada de minha filha.
E a vida segue nos dando flores que são lindas alegorias externas em
nossa vida, assim como nos dá flores em forma de realizações conquistadas com
denodo e com fé. Às vinte horas tenho a missa de formatura de minha filha mais
nova que está a se formar de novo, agora em Letras.
As estações se alternam e mesmo que seja outono, é primavera em meu
coração.
Isabel C
S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
21.8.2015
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