Sei o
quanto a chuva é necessária para todos e até aprecio um barulho suave de chuva.
Sem exageros. Já falei inúmeras vezes que detesto os exageros em tudo, por isso
digo que meu sentimento maior em relação à chuva é de temor. Creio que são
resquícios de trauma de infância. Sempre
morei em casa, até depois de casada comprar um apartamento no qual morei sem
qualquer interrupção durante trinta anos. Dos anos que morei em casa com meus
pais e irmãos tenho recordações de inúmeras goteiras que nos incomodavam
sobremaneira, fazendo-nos trocar móveis de lugar para fugir da água que
escorria dos tetos, quando a chuva era intensa ou quando havia ventos fortes ou
chuva de granizo que causavam danos nas telhas. Lembro de enchentes que me
pareciam imensas causando flagelo às famílias. Hoje, isso se tornou
corriqueiro, senão aqui no sul, em qualquer outra região do Brasil e também
mundo afora, pois tudo é instantaneamente visto na televisão e nas redes
sociais.
Certa ocasião. Meu pai que trabalhou décadas no escritório
de uma serralheria culminando como gerente, antes da aposentadoria, certa vez
levou para nossa casa um funcionário que tinha três filhos e cuja casa havia
sido invadida pela água. Aquela atitude de meu pai me fez admirá-lo, pois eu o
achava uma pessoa muito severa e sem demonstrações efusivas de afeto.
Ao longo dos
anos temos vivenciado momentos de apreensão em ocasiões de chuvarada sempre pensando naqueles que
residem em zonas mais vulneráveis e que
necessitam de mais ajuda, entretanto, o que se vê em minha
cidade, por falta de serviços urbanos mais eficientes ou descaso dos governos
e, ainda materiais de reparos sucateados é enchente em plena zona central da
cidade. Uma calamidade.
Confesso que
os trinta anos que permaneci no apartamento foram os mais tranqüilos de minha
vida. Residindo bem acima do chão, sem medo de invasão das águas, sem goteiras,
umidade, pois até subir todos os degraus, os pés já deixaram o restante da
umidade e sujeira fora da porta do apartamento.
Vivenciei
temporais em zonas de insegurança e senti muito medo. Passávamos nossas férias
em Santa Catarina, em Balneário Comburiu, algumas poucas vezes em
Florianópolis, mas sempre íamos a outras cidades turísticas passear. Nestas
regiões citadas as chuvas são comuns. Vem com intensidade, parece que vai
desabar toda a água do mundo e em seguida passa, porém vivemos vários destes
momentos na estrada, com árvores caindo e até morros desabando. Uma temeridade
que me fazia chorar em virtude de viajarmos com os quatro filhos. Meu marido
que tinha um espírito aventureiro dizia que eu era muito medrosa, mais
precisamente, que eu fazia fiasco chorando o que só servia para assustar as
crianças. O fato é que sobre estes fenômenos não temos controle.
Aprendi a ter muito respeito por tais fenômenos. Certa vez,
em local seguro, em andar alto de um edifício fiquei a observar o que chamei de
um belo espetáculo da natureza, um temporal carregado de raios e trovões. Foi
neste momento, por estar em local seguro, e por poder apreciar de perto algo
tão intenso que aprendi a ter este sentimento de respeito. Não podemos desafiar
tais fenômenos. É necessário resguardo, não tomar banho de praia como muitos o
fazem, não ficar em piscina, não ficar próximo a corrente de energia,
abrigar-se, não ficar embaixo de árvores.
Estes fenômenos são de grande magnitude, avassaladores e
atinge a qualquer pessoa, independente de classe social, etnia, religião, grau
de instrução. Eles nos ensinam que somos pequenos diante da natureza. É bom
salientar que a natureza sempre ensina basta
Estar atento e querer aprender.
Há
criaturas que são arrogantes, de uma soberba imensurável, desprezam os que estão
abaixo de si na esfera social o que é muita ignorância é só relembrarmos de fenômenos
como tsunamis que atingiram inúmeros países ao mesmo tempo sem qualquer
controle e furacões como o Catrina nos Estados Unidos. Em nosso país também
tivemos tornados que em minutos devastaram furiosamente algumas regiões. Pessoas
que tinham carros os perderam, mostrando que bens materiais se vão e que o mais
importante são as pessoas, os afetos e os sentimentos que nutrimos e passamos
aos que nos são caros e que nos cercam.
Isabel C S
Vargas
Pelotas/RS/Brasil
24.07.2015
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