MEU PEQUENO JARDIM
“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do
jardim para que elas venham até você.” Mario Quintana
Meu marido sempre gostou muito de flores. Era um afazer favorito cuidar
das plantas desde que se aposentou e mais ainda, depois que passamos a viver na
praia, há cinco anos.
Nosso jardim não é grande, pois a casa
também não é, mas já tivemos muitas alegrias com ele. Na parte externa da casa
temos dois hibiscos que cresceram tanto e por isso ele o arranjou de forma que
seus galhos formassem um arco. Este arco fica bem na frente da garagem servindo
de sombra para o carro,
Ao lado, há outra árvore que enfeita a frente de minha casa.
Mais à direita temos uma árvore chamada periquiteira que os pássaros adoram e
vem comer suas frutinhas vermelhas, mais uma pitangueira, e mudas de Hortência
branca,
Mais próximo ao alpendre já tivemos pinheiro, Ah e esse foi maravilhoso.
Plantamos quando compramos a casa e estava grávida de meu filho. Este pinheiro
embalou meu filho e minha neta mais velha em seus galhos onde prendíamos o
balanço. Ele foi árvore de natal, enfeitado todos os anos com luzes, e/ou enfeites
criados em casa. Uma alegria. Felicidade inesquecível. Passaram- se os anos e
suas raízes começaram a prejudicar a casa. Entupiam o encanamento, levantavam o
muro, e em função do tamanho e da inclinação- passava da altura do sobrado do
vizinho meu marido decidiu cortá-lo. Não sei explicar a intensidade da dor que
tomou conta de mim. Fiquei muito mal. Escrevi sobre isso. Era como se estivesse
cortando um filho meu, pois o associava ao nascimento de meu filho. Apos alguns
meses de seu corte, perdi meu filho aos 23 anos em um acidente. Não estava
errada em meus pressentimentos.
Cada dia mais meu marido se dedicou a cuidar das plantas, local onde ele
sufocava a dor ou a exteriorizava chorando sozinho. Fazia canteiros inteiros de
amor-perfeito. Fotografava tudo que tinha no jardim, até os cogumelos que apareciam
nos restos das raízes do pinheiro que não puderam ser arrancadas e ficavam à
mostra. Fotografava os pássaros, a quem passou alimentar cotidianamente com potes
pendurados nos galhos
das árvores. Beija-flores eram e continuam sendo meus convidados de honra.
Refiro-me só a mim, pois a dor levou meu marido quase três anos depois de meu
menino. Contraiu uma doença auto-imune que lhe roubou as forças, a vontade de
viver e o jardim ficou para eu cuidar.
Acrescentei
orquídeas presas no tronco das árvores, às que ele já tinha plantado.
Passei a plantar
em vasos que para mim ficou mais fácil. Adoro meus lírios da paz.
Cuido do jasmim miúdo muda daquele que havia no sítio de meu
sogro que já relatei em outra crônica. Hoje, meu jardim abriga, livremente, pássaros,
no mínimo cinco bentevis que vivem aqui. Não é história não, eles vivem nas
árvores ao redor de minha casa, mas é aqui que eles comem diariamente. Coloco
comida para eles e eles não satisfeitos comem a ração dos cães. São muito
atrevidos junto com as pombas. Se deixo o saco de alpiste à mão, e não há mais
no prato, eles bicam e abrem o saco e espalham por todo lado a comida. Quando abro a porta pela manhã
eles me chamam, Não é loucura. E, eu respondo: - Bom dia meus bentevis. Que
gritaria é essa? Querem comida ou estão a me dar bom dia?
Quando eu
era pequena e via borboletas grandes eu tinha medo. Hoje eu as amo, pois desde
que aqui ficamos morando elas aparecem em quantidade. Meu marido as fotografava
e seu divertimento lhe rendeu mais de uma exposição fotográfica sobre a
natureza que nos cercava. Uma chamou-se Criaturas e foi dedicada ao meu filho e
a outro se chamou Universo singular. Sua sensibilidade era muito forte,
extravasava e isso o transformou em um artista, ou, ele era um artista nato e
daí sua sensibilidade. Uma de suas borboletas foi exposta em Portugal no Salão
da Primavera.
E
eu também tenho minhas borboletas visitantes. Em uma ocasião encontrei no chão
uma com a asa meio danificada. Eu a peguei e andei com ela na mão até conseguir
acomodá-la no galho de uma planta, de onde ela voou mais tarde.
Meu
jardim é um motivo de alegria para meus olhos. Confesso que não se parece nem
de longe com o de meu marido isto porque hoje tenho cinco cães que são minha
companhia diária e meu desespero, pois estragam muitas coisas. Uma linda
curiosidade. Enquanto escrevo as caturritas gritam em meu pátio loucamente nas
árvores ao redor.
Isabel C S Vargas
Pelotas-RS-Brasil
18O12O15
Nenhum comentário:
Postar um comentário