Memórias
Prosaicas Nº 2
Doces
Recordações
A casa
que morávamos, meu pai, minha mãe e eu era na calçada defronte, mas quase na
outra esquina, da casa de minha avó materna. Ao lado desta casa que morávamos
era a casa de meus padrinhos, aqueles que comentei no outro texto, que ficaram
muito felizes com meu nascimento, pois só tinham filhos homens.
Não sei
de quando remontam minhas recordações, qual a idade precisa, mas posso garantir
que fui muito feliz naquela época. Meu dindo era de uma paciência inigualável.
Mais que meu pai. Tudo para ele era festa comigo. Para falar a verdade, as
recordações desta época envolvem meus dindos e primos. Acredito que eu era a princesinha
da família. Até hoje tenho fotos de pequena, próximo aos dois anos com meus
primos mais velhos, filhos de meus padrinhos e de outros irmãos de minha mãe.
Meu
padrinho era de origem polonesa, muito rígido com os filhos, comigo era um
doce. Ele montou na casa dele um trem que andava por dois andares. Era um
quarto que ele fez o que hoje chamamos de mezanino. Com escada de madeira e
junto à parede no andar de cima fez uma mesa em toda a extensão do quarto que
depois descia para o andar de baixo, por um vão. Aquela mesa parecia uma
estrada por onde o trem passava. Ele dispôs vegetação, rios, florestas, casas
tudo com páginas de revistas. O trem tinha vagões de carga que ele enchia de
pequenos objetos.
Outra
coisa que ele fez foi abrir a parede que dividia nossos quintais e ali ele
armava balanço, e uma ocasião ele fixou junto à parede, umas tábuas bem
estreitinhas, com lateral e da parte mais alta fazíamos escorregar bolinhas de
gude.
Ele
me levava na praça, para passear de carro, e me dava muitos presentes.
Foi
ele que me ensinou a contar dinheiro e me dava mesada desde que eu era pequena.
Deu-me um cofre para eu aprender a guardar dinheiro.
Não
sei que idade eu tinha, mas morava nesta casa ainda, pois só trocamos de casa
em 1958 quando nasceu minha irmã menor, quando aconteceu de eu adoecer. Lembro que chorava muito com dor na barriga. Chamaram
o pediatra cujo nome era Samuel que diagnosticou uma cólica de fígado. Foi
receitada uma injeção que recordo do fiasco que fiz para não tomar. Só aceitei
depois de ele me convencer que ele mesmo me daria tal medicação. Em troca
ganhei uns trocados para meu cofre. Confiava muito nele. Teria muito a contar
de meu dindo amado que me acompanhou e que me deu muito amor.
No meu
primeiro e segundo ano foram realizadas festas que eu acredito que teve grande presença
de amigos da família, pois anos mais tarde via as fotos com minha mãe.
Conto
ainda uma coisa que eu adorava. Meu padrinho pegava os rolos dos filmes que passavam
nos cinemas da cidade e passava na casa dele para eu ver.
Outra
recordação era a cachorrinha que eles tinham e se chamava Negrinha e que eu
gostava de brincar. Também tinham galo, galinha e gato.
Uma coisa
curiosa era que em minha cama tinha pendurada com uma fita uma placa de prata
com anjinhos da guarda e meu nome gravado. Hoje, ainda tenho esta placa que me
foi dada pelo nascimento por uma amiga de minha mãe, que vive até hoje e
comemorou a poucos dias mais de 8O anos. Esta senhora, muitos anos mais tarde
quando me reencontrou em um estabelecimento comercial comentou comigo o quanto
eu fui amada por todos quando eu nasci e na minha infância, o que, certamente,
é uma benção.
ISABEL C S VARGAS
17O12O15
Nenhum comentário:
Postar um comentário