ÁGUA DE BEBER (CRÔNICA)
“Tenho sede”. Podemos considerar
que esta assertiva foi muito usada em determinada região do Brasil em décadas
passadas. Incrivelmente, apesar de todo avanço tecnológico, ainda corresponde à
necessidade básica, premente, na mesma região, ou seja, o nordeste brasileiro. O nordeste é rico em belezas naturais, seu
litoral é deslumbrante, mas o sertão, a caatinga foi cenário de muita seca,
muita fome, miséria, no decorrer de anos, sendo a prometida água mote de
campanhas eleitorais e eleitoreira
que manteve políticos no poder
durante várias legislaturas, devido à esperança cultivada pelo povo sofrido de
melhores dias para aquela região.
Os antigos costumavam dizer que quem tem
água tem ouro e não só na região citada. A água é fundamental para alimentação
do ser humano, para irrigação e manutenção dos animais nos campos. Na realidade
é um recurso natural indispensável à vida no planeta Terra. Possui um enorme
valor econômico, ambiental e social, fundamental à sobrevivência dos
ecossistemas no nosso planeta.
Voltando ao caso específico de nosso
Brasil, a falta de água foi uma calamidade para a população do interior
nordestino, do que adveio a fome, a miséria, a mortandade de animais e o
fenômeno sociológico da migração para outras regiões, especialmente, o Sudeste,
com milhares de retirantes fugindo da seca por décadas, carregando os filhos,
seus próprios corpos magros e definhantes, sua tristeza infinita, e a miséria
estampada nos rostos.
A seca foi fértil na literatura.
Guimarães Rosa foi mestre em contar essa saga em
Vidas Secas, Raquel de Queiróz
descreveu em o Quinze este drama humano e social.
Na arte popular, melhor citando, na
música Luiz Gonzaga imortalizou em Asa Branca tão crucial drama assim como
Patativa de Assaré. Mestre Vitalino em
Caruaru em Pernambuco também utilizou muito a temática da seca em sua tão
difundida arte popular, Não esqueçamos o folclore em geral, o canto e a
literatura de cordel que primaram por incluir a temática da seca que é sua
realidade mais forte e cruel.
A população que mais sofre com a
seca e a retirada de seus habitats
é a de menor poder econômico,
geralmente, analfabetos, muito apegados a religiosidade como meio de
sobreviver, de encontrar apoio, explicação e esperança, crentes na bondade
humana e na providência divina, aliadas às crendices internalizadas pelo
costume em razão da baixa escolaridade e do saber empírico. Parcela
considerável da população brasileira encontra no saber popular apoio para a sua
sabedoria, refletindo-se no pensar, sentir e agir coletivo.
Zezito Guedes registrou alguns ditos populares
ressaltando a relação entre seca e religiosidade popular. Eis alguns:
A seca é um castigo para o povo
que não tem mais fé.
A seca só aparece quando o povo
está pecando demais.
A falta de merecimento traz a
seca para o sertão.
A seca acontece de vez em quando
para desconto dos pecados.
A seca vem para que o povo se
lembre de Deus.
Pela desobediência do povo é que
vem a seca para a terra.
O povo profana a Deus e a seca
vem com castigo.
A
todo sofrimento físico e material somava-se o sofrimento moral. Pelo fato da
água ser tão importante e indispensável e de valor econômico tão expressivo a
falta dela é capaz de causar todos esses resultados de ordem pessoal, afetiva,
familiar, social, econômica e cultural.
Ainda na atualidade a seca continua
a eleger políticos que tentam implantar políticas de convivência com a seca. O
problema pode ter sido minimizado, em alguns locais, mas não resolvido e a
população em geral até bem pouco tempo acreditava que a água era infinita no
planeta sem se aperceber que o mau uso nas regiões de abundância e a
decrescente quantidade de água doce podem ocasionar situações de calamidades
futuras em função da degradação do planeta, como a poluição dos mananciais
hídricos.
Exemplo disto o Brasil vem
vivenciando, recentemente, com as consequências do desmatamento que ocasionou
seca no Sudeste e alagamentos em outras regiões, tão bem explicado na mídia
televisiva com intuito de orientação à população.
Evitemos todos que os
homens tenham sede, cuidando dessa importante fonte de vida para todas as
espécies do planeta, tanto humana, como a animal e a vegetal.
Só a conscientização
será capaz de prover a saciedade no planeta.
Água a quem tem sede é a ordem
imperiosa.
Isabel C S Vargas
Pelotas-RS- Brasil
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