quinta-feira, 20 de outubro de 2016

LONGE DOS OLHOS,MAS SEMPRE NO CORAÇÃO/POSTAGEM DESTACADA


   LONGE DOS OLHOS,MAS SEMPRE NO CORAÇÃO



Costuma-se falar na síndrome do ninho vazio como um dos fatores causadores da depressão. Geralmente, acomete mulheres que estão entrando em um período, não necessariamente da terceira idade, mas de fechamento de ciclos, como aposentadoria, desligamento do mercado de trabalho, casamento dos filhos ou sua saída de casa, para estudar fora ou por ter conquistado independência financeira. É possível ocorrer por um destes fatores ou por vários deles acumulados. Quase sempre, quando nos referimos a esta síndrome o fazemos relacionando às mulheres, conhecidas por demonstrarem mais sensibilidade, serem muito apegadas aos filhos, principalmente no caso daquelas que não tiveram uma carreira profissional e, de repente, ficam viúvas coincidente à saída do(s) filho(s) de casa. Uma sensação de inutilidade e vazio se instaura. Pois bem, outro dia li um depoimento, no jornal, de um homem que se encontrava nesta mesma situação. Criou quatro filhos e ao ver as camas vazias sentiu esse sentimento que mistura melancolia, tristeza mesmo sabendo que os filhos estão bem, que ele cumpriu exemplarmente sua tarefa de educar. E, educar, implica em criar para o mundo. Chega a hora que os filhos exercitam o voo da liberdade e por mais medo que isso possa representar para os pais não podemos tolhê-los. Identifiquei-me com ele no sentimento, na quantidade de camas que ele contava (eram quatro) e revi minha vida. Só dormia descansada após contar as quatro camas onde eles repousavam tranquilamente. Quando comprava presentes eram quatro, quando ia para férias era um incessante contar para ver se alguém não havia ficado perdido em algum lugar. Na praia então, contava sempre as quatro cabecinhas na água, para meu desespero e aborrecimento de meu marido que recebia de mim a incumbência de contar quando eu não estava olhando.

Passei em revista um longo período de minha vida. Há quem pense que essa preocupação cessa quando eles crescem, mas depois que nascem os filhos esse cuidado é para toda a vida.

Hoje, os homens demostram essa mesma preocupação, esse mesmo carinho diferente de outrora, época que aos homens não era permitido chorar. Estes passaram a ser companheiros e não chefes, a dividir tarefas, cuidar dos filhos desde que nascem. Trocam fraldas, dão mamadeira, cuidam na madrugada, levam ao médico, à escola, enfim, tem uma jornada dupla, igual às mulheres que tem filhos e tem atividade profissional.

Ambos, homens e mulheres são capazes do maior amor, carinho e dedicação. E assim fazendo nos iludimos acreditando que fazendo tudo direitinho, os estamos livrando de todo mal. Antigamente, eu pensava e me preocupava, imaginando como agiria quando eles crescessem. Ainda lembro, incrédula quando nossa segunda filha casou; depois ajudamos na mudança de nossa filha mais velha quando foi morar sozinha em seu apartamento. Sem traumas maiores. Estavam a algumas quadras distantes e ao alcance de qualquer telefone. Continuaram vindo almoçar, convivíamos sempre.

O pior é quando tragédias acontecem. Sem previsão, cruéis, inimagináveis porque fizemos tudo que podíamos e eles também. Eram ótimos filhos, amorosos, dedicados, estudiosos, todos formados em curso superior, trabalhando.

Éramos felizes.

No meu caso, com três meninas e o caçula, amado por todos, o preferido como elas costumavam brincar, Bacharel em Ciência da Computação, professor de uma Instituição Federal se acidenta na saída do trabalho em um inexplicável acidente quando seu carro capota. A dor é indescritível.

Quando vejo uma mãe ou pai a lamentar a saída dos filhos da casa paterna ou materna, digo-lhes para não chorarem, pois eles poderão entrar a qualquer momento, abraçá-los, beijá-los, ou estão ao alcance dos celulares, do computador onde se enxergam e falam ao vivo.

Trocaria tudo que tenho para viver por um momento como este, mas não tenho nenhuma escolha. A morte é inexorável. Sigo minha vida com aceitação e, com mais uma ausência contundente. A dor da perda foi fatal para meu marido, que trancou a dor em seu coração para me ajudar a viver e foi tomado, inesperadamente, por uma enfermidade que o levou de nós para junto de nosso menino e de Deus.

O ninho ficou vazio, hoje vivo só, mas isso não é um lamento. É uma constatação.

Tive um filho maravilhoso que partiu antes, três filhas que tenho por perto, sempre, e cinco maravilhosos netos que me dão muita alegria. Apesar das dores, sou uma pessoa feliz e agradecida ao que a vida e Deus me proporcionou.

                          ISABEL C S VARGAS



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