domingo, 30 de dezembro de 2018

MEU TEXTO EM REVISTA LITERALIVRE ESPECIAL 2018/OS MELHORES DO ANO/SALVANDO BORBOLETAS




                                             SALVANDO AS BORBOLETAS/ CRÔNICA




            Quando pequena, apesar de morar bem no centro da cidade, minha casa ficava localizada em um terreno grande.
           Havia um muro alto na frente, com um portão e dentro, duas casas, uma na frente, separada da que ficava ao fundo, por uma cerca de madeira pintada de branco. Grama, muita grama bem verdinha por tudo. Havia árvores frutíferas junto às casas e flores.
          Creio que tudo isso fazia com que borboletas aparecessem e eu, por incrível que possa parecer, morria de medo delas. Sim, medo, porque não eram borboletas pequenas eram umas borboletas enormes, pretas com laranja, lilás, amarelas. Quando elas apareciam eu corria de um lado para outro como se elas quisessem me pegar. Coisas de criança! Nem sei se elas eram tão grandes assim, mas naquela idade, para mim eram. Como ninguém me explicou em tempo hábil que borboletas são inofensivas e servem para alegrar os olhos, ao invés de ficar feliz e encantada eu fugia.
         Com o entendimento, passei a amar borboletas. Suas cores me extasiavam e o medo ficou distante.
         Morando na praia, com grama, árvores, flores, frutas, pássaros soltos, cães e gatos visitantes também recebo muitas borboletas visitando meu quintal. E eu amo. Aparecem muitas em dupla, desde as branquinhas, amarelinhas que eu julgo serem borboletas adolescentes pelo tamanho e fragilidade, até as maiores.
         Certo dia, encontrei uma borboleta machucada, com uma das asas meio torta.
         Antes que os cachorros pudessem apanhá-la coloquei minha mão junto dela e ela subiu.
Fiquei algum tempo observando-a e vi que na realidade sua asa não estava partida. Creio que uma batida a fizera cair ao chão. Soltei-a junto de uma planta no vaso, vim dentro de casa, peguei uma máquina fotográfica e a fotografei várias vezes. Assim provo que é verdade que a segurei.
         Depois de acaricia-la soltei-a no vaso, novamente e dali alguns instantes mais, ela voou livre.
         Mais recentemente, creio que em fevereiro, ao ir na edícula, onde tenho a máquina de lavar, vi uma borboleta totalmente grudada no chão molhado. Pensei: Será que está morta?
 Com a maior delicadeza que era capaz, desgrudei suas asas do chão e coloquei-a em meu dedo indicador. Ela estava viva! Molhara as asas e o peso não a deixava voar. Sentei-me ao sol e delicadamente comecei a assoprar suas asas para que secassem.
               Assim fiquei alguns instantes até que ela começasse a bate-las levemente. Pronto,está em fase de recuperação pensei.
                 Fiz o mesmo que fizera com a oura. Coloquei-a à salvo em um vaso e vim dentro de casa pegar o celular para fotografá-la.
                   Quando cheguei junto ao vaso ela já não estava mais. Tinha alçado voo rumo ao céu. Não pude registrar essa visitante, mas fiquei feliz por ter conseguido salvá-la. Era isso que importava.


                                                       Isabel C S Vargas
                                                        Pelotas/RS/Brasil






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