segunda-feira, 17 de outubro de 2016

TEXTO 202/2016/ O VENTO GRITA EM SOCORRO DA NATUREZA(CRÔNICA)



Já passei por diversas situações nas quais o vento teve um papel muito importante no meu comportamento.

A primeira situação foi há muitos anos por ocasião de minha lua de mel. Fomos para a praia de Torres no litoral norte do Rio Grande do Sul. Quem conhece sabe que o mar é bravo, de ondas fortes e bastante vento.

O apartamento que ficamos era na segunda rua paralela ao mar. Como o apartamento era de fundos, a proximidade era maior.Ao ventar muito ouvia-se com nitidez absoluta o barulho do mar durante as 24 horas do dia. À noite o barulho era intenso. Imaginava se a água, por qualquer motivo adentrasse nas ruas, entraria em nosso apartamento que era térreo.

Isso tudo, fruto de meus medos, lógico.

Passados alguns anos, já com filhos, duas meninas, fomos acampar no norte da Ilha de Florianópolis. À noite, se na situação anterior tinha medo, nesta tinha pavor quando ventava, porque acreditava que iria ficar sem barraca, sem roupa e com água por todos os lados, pois o camping era à beira-mar.

Nossos veraneios, por cerca de vinte anos, foram em Santa Catarina. A maioria destes, em Balneário Camboriú de onde saíamos paras outros passeios.

Não sei se é pela proximidade ao mar, pelas montanhas, pelo clima de maneira geral, lá é propício à tempestade.

Voltávamos de Pomerode, uma cidade pequena de colonização alemã e enfrentamos uma violenta tempestade. O vento era tão intenso que derrubou um imenso eucalipto que ficou atravessado na estrada. Filas de carro se formaram. Os motoristas desceram e com muita dificuldade devido ao vento, à chuva e ao peso da árvore, conseguiram desloca-la um pouco para que os carros passassem utilizando uma pista.

Esta não foi a última vez a passar por sustos ou temores. Outra ocasião estávamos bem no centro de Balneário, hospedados em um apartamento que dava para a praia. O andar era alto, meu marido andava sempre com máquina fotográfica em mãos e estávamos abrigados quando a tempestade começou.

As janelas, na maior parte dos edifícios, não têm proteção. São de alumínio, ferro ou madeira, com os vidros. Hoje, grande parte só envidraçadas. Cada rajada de vento parecia que os vidros iriam quebrar tal era o barulho das guarnições de ferro. Foi um espetáculo grandioso, visto da altura em que estávamos abrigados. Raios, trovoadas e rajadas de chuva e vento. Tudo devidamente documentado em foto e filmagem.

O sentimento que me tomou não foi de medo e sim de respeito. Conscientizei-me que cada vez mais é necessário respeitar a natureza e, talvez, essas intercorrências, que podem ser muito perigosas, ocorram devido à grande inconsciência do homem que desmata, deixa-se tomar pela ganância da especulação imobiliária.

Muitas situações passamos devido ao vento e às consequências que dele advém dependendo de sua intensidade.

Devido ao vento tivemos de cortar um imenso pinheiro que eu amava e que daria sozinho um outro texto, devido ao vento mandei arrancar a antena parabólica de cima do edifício onde morava, pois ficou toda despencada, devido ao vento não gosto de ir na praia do Cassino,em Rio Grande, onde ocorrem muitas tempestades de areia, e a água avança sobre os carros estacionados na orla.

Em outubro do ano passado, morando sozinha aqui na praia, tive que sair de minha casa que fica há oito quadras da lagoa, porque o vento nordeste fez a água do Guaíba represar na Lagoa e o Canal de São Gonçalo aumentar o seu volume e invadir as áreas mais baixas , causando uma enchente atípica por cerca de vinte dias, ficando os moradores sem acesso às suas casas, sem água, luz, até a situação normalizar, tendo havido auxílio do exército, da marinha, capitania dos portos para minimizar a situação, nos Balneários Pontal da Barra, Valverde,Santo Antônio e Colônia Z3.

Aqui, mais uma vez, problemas devido a urbanização de determinadas áreas de preservação.

Assim, analisando as situações com as quais me deparei ao longo da vida, afirmo com certeza, que no geral, podem ocorrer situações difíceis, porém não devemos atribuir toda a responsabilidade às intempéries, pois muitas vezes, a voz do vento pode ser, na realidade, um forte grito de socorro da natureza.


Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
18.10.2016








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