Nunca tive
predileção pela cor vermelha. Durante anos acreditei que minha cor preferida, o
verde, se devia ao fato de gostar muito de campo, da natureza, até que descobri
que minha paixão era o mar.
O vermelho
parecia-me intenso, inquietante vulgar. Como sou uma pessoa mais calma acredito
que me identifico mais com essa cor menos inquietante, e com um componente mais
frio.
Em minha
juventude o vermelho era associado aos partidos políticos de esquerda,
comunista, socialista o que já me bastava para me distanciar o mais possível
desta cor. Vivíamos em uma ditadura. Os meios universitários eram conturbados.
Cautela era necessária.
Em momentos
importantes de minha vida, tais como aniversários de meus filhos, casamentos,
formaturas, outros eventos jamais usei vermelho. Acreditava que em nada
combinava comigo.
O vermelho está
associado à paixão, excitação, energia, poder, guerra, perigo e violência. Tudo
que eu queria longe de mim.
Isso tudo me
assustava. Tinha medo do que poderia ocorrer. Era de minha personalidade, ou,
talvez, seja, manter controle de tudo para me sentir segura. Dominar a
situação. No caso da paixão, “perder a cabeça” era algo que não passava pela
minha.
Minhas filhas
frequentavam muitas festas. Não me recordo de o vermelho ser preferência em
seus guarda-roupas, apenas no da mais nova, de quem me lembro de, apenas, dois
vestidos, sendo um de gala, vermelho, bordado para uma ocasião especial. Mais
tarde de um vestido vermelho de minha neta com saia plissada.
Meu marido sempre sonhou em ter um automóvel
vermelho. Nunca o tivemos. Eram todos em tons de cinza, prata, grafite e
branco. Quando meu filho comprou com suas economias seu primeiro carro, zero km
e pediu ao pai que fosse retirá-lo na chegada pois estaria dando aulas em outra
cidade fiquei feliz por ele estar realizando um sonho através do filho.
Não imaginávamos
que aquilo que trazia aparente alegria viria s ser o vermelho sangue do perigo,
da violência e da dor mais intensa de nossas vidas, mutilada desde a data
fatal.
Acredito que o não
gostar poderia ser um pressentimento de mãe.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
06.04.2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário