SOLIDÃO
E A ESCRITA/ENSAIO
Há autores que falam sobre o escrever como ato solitário. Da solidão
brotam as idéias, os textos, a obra. Traduzem a solidão como facilitadora ou
indutora do ato de escrever
Não
estou aqui para concordar. Minha idéia é duvidar. Até porque em meu
entendimento é da dúvida que resultam coisas boas.
Da solidão só sai amargura, tristeza, mágoa (ou são as mágoas que geram
solidão?) azedume, isolamento, distanciamento, sofrimento, incapacidade de
conviver (e por não saber viver com, as pessoas morrem). Na solidão encontra-se
muita dor e não é dor pequena não, muito menos por vontade própria, porque a
solidão é danada. Vai pegando a pessoa aos poucos, como a depressão que é uma
enfermidade e enredando em uma teia, que depois não dá para sair. Quando o
indivíduo percebe, está por inteiro na solidão e aí, para escapar só com ajuda,
se tiver sorte, e se não tiver espantado todo mundo à sua volta. Aliás, espantou
a si mesmo e nem percebeu.
É como aquele fenômeno da psicoadaptação, no qual a pessoa vai recebendo as
informações aos poucos, por mais difíceis que sejam de aceitar e quando se
apercebe já acostumou. Na solidão é ao contrário. A vida vai lhe sendo tirada
aos poucos, e como é devagar, como em conta gotas não dói tanto que ao se dar
conta ela já fugiu de todo. Aliás, ele fugiu de si mesmo sem ter consciência
disso. E dessa inconsciência nada brota. Do nada não brota semente. Não
prolifera vida.
Então, abaixo a solidão esse danado mal do século que pega pessoas e
transforma-as em formigas, sem vontade, sem prazer, sem sossego escondidas da
vida, do mundo, das pessoas, sem interagir com ninguém.
Escrever brota da vida, do amor, da falta dele, mas do amor por si mesmo que é
capaz de fazer qualquer pessoa desafogar dores intensas no mais desassossegado
rabisco, muitas vezes sem forma, mas como sinal de resistência, de apego à
vida, da necessidade de elaborar coisas e fugir da insanidade.
Escrever resulta do entusiasmo, da percepção do sagrado em cada ser.
Então, ao escrever sacralizamos a vida.
A solidão não nos permitiria escrever qualquer texto. Pelo menos para mim,
simples mortal que através da escrita luta para não ficar à deriva.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário