Marina era
uma criança encantadora. Loira, cabelos cacheados, olhos castanhos esverdeados
que mudavam a tonalidade de acordo com a cor da roupa que vestia acentuando o
tom de verde.
Esperta,
alegre, vaidosa por natureza e devido ao incentivo da família. Primeira filha e
neta de ambos os lados, por consequência, uma princesa com um séquito de
súditos a seu dispor, entre avós e tios. Fácil adivinhar que disto resultaria
muito mimo, muitos afagos e presentes e é óbvio manhas, também.
A mãe
trabalhava e ela passou a ficar com a avó materna, o avô, a bisavó e uma tia avó,
todos do lado materno, que se revezavam em cuidados e atenção depois que a mãe
retornou ao trabalho após seu nascimento.
Marina cresceu cheia de saúde, de atenção e muitos desejos.
Aos
quatro anos foi para o maternal, onde se encantou com o espaço, com os
amiguinhos e com a tia. Era muito meiga, mas de gênio forte, Sabia o que
queria. Estranho para uma menininha de, apenas, quatro anos de idade. Via
desenhos na televisão, olhava livrinhos que ganhava e a partir daí começou a
esboçar seus desejos mais fortemente.
Fez
a pré escola com cinco anos e aos seis entrou na primeira série. Na formatura
da pré escola foi escolhida oradora. Suas palavras foram pronunciadas
observando os desenhos feitos em uma folha de ofício. Foi inquirida sobre o que
queria dizer e seu desejo foi transformado em desenhos a fim de lembrar-se do
que deveria falar.
A
próxima etapa foi realizar seu sonho: dançar balé. Foi matriculada em uma
escola de balé muito conceituada na cidade, de onde já saíram bailarinas que já
dançaram no teatro municipal do Rio de Janeiro e, também outra selecionada para
o Bolshoi.
As
aulas de balé para iniciantes eram no turno inverso da escola. Como ela
estudava à tarde, esta atividade era de manhã, às dez horas. `
As
meninas iniciam cedo nesta aprendizagem o que muitas vezes pode dar conflitos
em função da imaturidade, o que é natural.
A menina desejava, era seu
sonho, como ela costumava exprimir em gestos um tanto teatrais.
A
avó a levava duas vezes na semana, mas com certa dificuldade de ela levantar
cedo e estar lá no horário.
Ao final do ano a apresentação da escola incluiu as iniciantes e lá
estava ela de sapatilhas e vestida de camponesa. Uma pequena participação a título de incentivo
às crianças.
No ano seguinte o imaginado era que ela estaria mais madura e não teria
mais a dificuldade em levantar cedo nos dias de aula de balé, mas a situação
foi pior.
Cada dia uma conversa a fim de saber o motivo de tanta
incomodação e dificuldade de levantar cedo. Afinal, se era seu desejo, seu
sonho e não estava lá obrigada, não fazia sentido tanto sofrimento dela que ia
aborrecida e com reclamações. Isto durou os dois meses iniciais, até que a vó sentenciou: Se
na próxima aula chorares ao levantar
tua matrícula será cancelada, pois o que deveria ser um prazer
para as duas acabava sendo uma tortura.
E
assim foi feito. Ela não foi mais a aula. Chorou muito e disse que a avó estava
acabando com o sonho dela. A avó aproveitou o momento e conversou com ela a respeito da importância dos
sonhos para a realização de cada um e que naquele momento ela não estava
demonstrando maturidade suficiente por ser muito novinha para assumir um compromisso
tão importante. Os sonhos devem ser
batalhados para ter sentido na vida de cada pessoa. Ao ficar maior se desejasse
e tivesse mais compreensão ela retornaria.
Ao ficar
maior foi fazer dança contemporânea na escola e se divertia fazendo isso, sendo
motivo de prazer o desempenho de tal atividade. Também entrou para o CTG da
escola, Centro de Tradições Gaúchas onde foi aprender as danças típicas do sul.
Dançou
uns dois anos e no dia que trocaram os horários de ensaio do fim da tarde para
os sábados de manhã ela disse que não iria mais.
À medida
que foi crescendo foi ficando mais tímida, mais quieta, mas muito responsável e
ri das coisas que fazia na infância.
Hoje é
uma mocinha linda, com dezesseis anos fazendo o ENEM para ingressar na
universidade. A dança? Foi só um sonho de menina, mas como este era o último
ano de colégio fez questão de dançar na quadrilha dos terceiros anos da escola
e convocou a família inteira para assistir.
Como é muito nova, quem sabe um dia a dança
entre em sua vida, de uma forma diferente, alternativa e prazerosa. Só o tempo
dirá.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
15.1O.2O15
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