quarta-feira, 2 de maio de 2018

TEXTO 39/2018/ ESPIRAL



Espiral


Tento entender meu destino. O silêncio me perturba. Sou prisioneiro das minhas escolhas ou do que foi a mim destinado? Sinto-me imóvel como uma árvore, sempre no mesmo lugar, sem perspectiva de mudança. As árvores acolhem, dão proteção, mas eu me sinto podado, sem conseguir proteger ninguém e também sem poder acolher. Podaram-me os galhos, não consigo abraçar...  Sinto-me impotente, solitário, atingido, sem força, sem poder de recuperação. Será que me autoflagelei? Serei vegetal em extinção? Suspiro. Levanto a cabeça, tento ser forte, mas sinto-me um espantalho, caricatura de gente, arremedo de vida. Marco território, espanto invasores, sem possibilidade de interação. Sem alma! Expulso, assusto, simulo vida, mas não vivo. Cumpro uma função dada por quem? Quem impõe clausura, dependência, flagelação? Que pecados quero expiar? Cada vez fecho mais janelas para fugir da luz do dia. Porque aprofundo-me no labirinto? Porque não disparo, arranco portas, arrebento fechaduras, desvendo mistérios, enfrento medos e me dou a chance de descobrir quem sou, sem que para isso tenha que me olhar no espelho buscando respostas cujas perguntas  sequer sei formular?

Isabel C S Vargas
30.04.2018


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