MINHAS AVÓS EM MINHA VIDA
Vou falar de duas mulheres que nasceram no final do século XIX e faleceram na segunda metade do século vinte. Uma, quando eu tinha por volta de uns onze anos de idade e, a outra quando eu tinha vinte e cinco anos.Esta, mãe de minha mãe.
Curiosamente,na data de hoje li sobre Constelações familiares que falava sobre a importância da avó materna na constituição do bebê de sua filha.
Ambas foram muito significativas em minha vida. Da primeira lembro as comidas extremamente deliciosas que comia em sua casa,da sua paciência em conviver com meu avô, um tirano ,de acordo com minhas lembranças.
Lembro que sofria muito de tosse e falta de ar. Não sei precisar ,hoje , sua enfermidade, creio que algo como bronquite,asma.
Lembro de sua fala em uma ocasião em que meu pai contara a ela que eu desejava fazer curso de Direito e não o magisterio como suas irmãs ao que ela ,prontamente respondeu: -Deixa a menina ser o que quiser. Ideia libertária em uma época que a profissão indicada para as mulheres, como concessão era ser professora.
A despeito do que dizia, comecei minha vida profissional no Magistério, antes mesmo de terminar o Curso Normal em meados de 1970.Neste mesmo ano entrei para a Faculdade de Direito.
A outra avó ,Mariana, foi muito amada.
Foi meu exemplo de pessoa,de mulher,que depois transferi para minha mãe. Teve onze filhos,dois quais quatro morreram. Criou sete com muita determinação e amor. O respeito dos filhos era algo maravilhoso.
Ensinou-os a ler e escrever em casa.
Pobre,meu avô era funileiro, ela cuidou de todos como uma leoa .Com amor e disciplina.
Com a morte de meu avô em 1958 , após um período de enfermidade, que eu acredito ter sido esclerose, eu com seis para sete anos, diria que ela entregou os pontos,deixou a batalha da vida para os mais novos.
Ela era obesa, quase não enxergava devido ao que deveria ser catarata.
Passou a viver na cama e ali permaneceu durante dezoito anos.
Seus filhos revezavam-se no cuidado,cada turno um ficava com ela para os demais trabalharem,tanto os homens como as mulheres.Era uma dedicação, carinho ,respeito e amor inigualáveis.
Faleceu em casa, como se costumava dizer, como um passarinho.Seu coração foi ficando fraquinho,fraquinho até que partiu com mais de 90 anos.
O mais impressionante de tudo.é que nunca a ouvi reclamar,nunca ouvi uma queixa sequer.
Vivia com o radinho de pilhas na cama para inteirar-se do que se passava.
Eu a amava muito, assim.como todos que a cercavam.
Hoje tenho cinco netos. A mais velha ,Marina, tem dezoito anos.Como minha filha divorciou-se quando ela tinha cinco anos, ela e a mãe moraram comigo até os seus quatorze anos.É como se fosse minha filha.
Acompanhei-a desde a barriga da mãe. Escutávamos música juntas e minha filha mostrava a barriga agitando-se com seus movimentos.
No seu primeiro dia de aula estava junto, nas apresentações no colégio, no violão, na catequese,na dança, no médico, tudo,enfim.
Sinto que o amor que ela tem por mim é grande como o meu por ela.Sinto na sua preocupação comigo, nas suas palavras, na sua disponibilidade com relação à mim na nossa ligação por todas as perdas que juntas passamos.
Frequentemente,declaramos nosso amor uma à outra e creio que fui eu que a ensinei a externar os sentimentos.
Certa vez coloquei uma música que escutávamos quando ela estava na barriga de minha filha e ela ,prontamente,disse:-Ah, vó ,essa não que é muito triste.E era mesmo.Talvez ela ja tivesse demonstrado isso é nós achávamos que ela gostava.
Amo meus outros netos,um casal da minha filha mais velha,mas eles são pequenos, o Otávio com cinco anos e a Amanda com três e os irmãos dela, gêmeos de cinco anos Francisco e Augusto.
Desejo que todos eles sejam muito felizes.E que eu permaneça viva em seus corações quando eu não estiver mais aqui. Isso para mim é sinônimo de eternidade.
Isabel C S Vargas
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