Em meados
dos anos setenta meu sogro comprou um sítio na zona rural da cidade, local este
que se emancipou alguns anos depois e adquiriu autonomia sendo um município vizinho
muito ligado à nossa cidade.
Na época meu
marido e eu ainda éramos namorados. Com a aquisição da propriedade passou a ser
local de recreio semanal. Durante um tempo não deu para ser chamado local de
descanso por serem muitas as tarefas para adequá-lo ao lazer da família.
O local ainda era distante dos problemas
que atingem a sociedade de hoje na questão da violência e segurança.
A
vizinhança era acolhedora e o local propício ao plantio e ao lazer pelo espaço e
as oportunidades que oferecia.
No local
já havia muitas árvores frutíferas plantadas. Toda aquela região era área de
lazer rural das famílias da nossa cidade.
Havia laranja,
bergamota, lima, pera, cáqui, goiaba, ameixa. Ah não posso esquecer que havia
nozes, que eu adoro e que ainda comi de lá poucos anos atrás.
O trabalho
inicial era fazer a limpeza do terreno, a poda do que necessitava ser podado e,
posteriormente ver o que mais seria plantado.
Resolvemos
plantar pêssego que é uma fruta característica desta região. E nessa atividade
me incluo pois coube a nós fazermos o plantio experimental em um canto da área.
Não havia empregados para realizar as tarefas, era tudo em família. A tarefa,
em realidade era diversão, exercício físico e mental.
Só meu
marido e eu plantamos cerca de trinta pessegueiros. E eu jamais esqueci isso.
Foi maravilhoso ser responsável por algo que depois vimos
desenvolver e servir de alimento para toda a família, colhidos diretamente no
pé ou em forma de doce em calda ou pessegada feito por minha sogra. Plantar e
colher é uma atividade excelente para o corpo e a mente. Mostra a capacidade de
cuidar da terra e dela extrair seus frutos, procurando fazer o melhor para ela
e para o ser humano. Sei que muitos não fazem isso, mas respeitar a terra surge
ao natural para quem não a usa como instrumento de enriquecimento através da
exploração extrativa, agrícola ou para industrialização. O sentimento de
gratidão que surge ao ver nascer aquilo que foi plantado por nossas próprias
mãos é maravilhoso.
Mas não
ficou só nos pêssegos. Plantamos morango, mais meu marido e meu sogro.
Ajudei no transplante das mudas, na colheita e em comer,
evidentemente. Outra atividade que fizemos com muita alegria foi plantar milho
e prazer maior tivemos ao comê-los assados na brasa, ao ar livre nas tardes de
sábado e domingo que lá passávamos.
Plantar nos
ensina muita coisa para a vida toda. O trato com a terra, o cuidado necessário
para o desenvolvimento do que foi plantado, a paciência da espera, o respeito
ao outro na medida que tudo que era colhido era desfrutado com a família, os
amigos, vizinhos evitando o desperdício.
Lá com os
vizinhos conheci o sabor da tangerina que plantamos, posteriormente, para o
consumo familiar.
Não poderia
deixar de falar nas maravilhosas parreiras, com uva branca, rosa e escura, tomando
todo um corredor de frente a fundo do sitio, de uvas muito doces e que tínhamos
que colher tão logo estivesse no ponto, senão virariam comida dos passarinhos e
das abelhas. Confesso que minha atividade foi só colher e saborear.
Aprendi que a
colheita está sempre ligada a atitude de cada um. Creio que por isso
encontramos tanta sabedoria no homem do campo, que pode não ter escolaridade,
mas é ele mesmo uma escola, sendo um mestre em repassar sua sabedoria empírica
que não devemos desprezar.
Aprendi como nada
nesta vida é isolado, que todas as ações praticadas têm uma consequência, que somos
responsáveis por nossas atitudes e que o resultado das mesmas poderá atingir
muitas pessoas.
É necessário ter
cuidado com tudo, no sentido de respeitar a natureza de cada um. Plantar com
amor, colher com alegria, distribuir por obrigação, saborear por prazer e,
repor por gratidão, lembrando sempre que só colhemos coisas boas, se as
plantarmos ao longo da vida, como plantio efetivo, ou com palavras e ações ao
longo de nossa jornada.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
04.09.2016
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