Quando
era criança tinha muitos medos. Queria que o tempo passasse rápido consciente
que o futuro me daria maturidade para perdê-los ou enfrentá-los.
Minha
primeira lembrança de ter medo no passado foi por ocasião da perda de meu avô.
Para mim ele era bem velhinho, hoje me dou conta que ele deveria ter um pouco
mais de idade que tenho agora e não me sinto velhinha. Na época, o funeral era
em casa do falecido e isso me aterrorizou.
Alguns
anos mais tarde quando meu pai foi trabalhar na capital e minha mãe não quis
ir, ficamos os quatro, meu irmão, minha irmã, eu e minha mãe, temporariamente, na
casa de minha avó materna. Recordo de rezar pedindo a Deus para não levar minha
avó enquanto morássemos em sua casa, a fim de não ter de enfrentar tão dolorosa
situação ali onde estava morando. Ela faleceu aos noventa anos, eu já era moça
e namorava meu marido.
Por
volta dos dez anos recordo que minha mãe me mandou para a escola sozinha. A
escola ficava na mesma rua de minha casa, distante umas sete quadras. Morria de
medo de ser raptada. Lá fui eu de novo, incomodar Jesus pedindo para crescer
rápido, para chegar aos quinze anos, por acreditar que nesta idade os medos já
teriam sumido. Não me dava conta que viver é enfrentar os medos e que eles
sempre existirão. Apenas, vão sendo substituídos por outros.
Naquela época foi possível ir à escola sozinha. Meus filhos eram levados
ao colégio de carro, sempre protegidos, querendo nós, meu marido e eu
protegê-los de tudo que fosse possível. Entretanto, com a violência, as drogas,
a marginalização cada vez maior das populações periféricas foi aumentando o
medo das pessoas deixarem os menores andarem só e o serviços de vans
substituíram os pais nas tarefas de levar e buscar os filhos quando eles não podem fazê-lo. Hoje, então, a
situação é tão caótica que vivemos cercados por grades, cerca elétrica, alarme,
cães e temos medo de sair à rua e sermos assaltados ao ir à padaria da esquina,
ou no banco pagar uma conta. Vivemos prisioneiros.
Aprendi que crescemos e os medos existem. Medo de perder os que amamos e,
o pior de tudo é que perdemos e somos obrigados a enfrentar o medo, vivenciar a
dor até o final e seguimos vivendo cientes que nada isenta ninguém de passar
pelos momentos que a nós são encaminhados para passarmos. O tempo nos dá esse
entendimento e sabedoria para perceber que a vida é bela, mas que ao nascermos
não recebemos garantia de que seremos só felizes, ou só infelizes, ao
contrário, teremos de procurar entre as vivências, mesmo as mais doloridas,
motivos para ser fortes, enfrentar os medos, e ainda assim ser feliz,
valorizando cada momento bom que tivemos, pois são eles que nos abastecem de
energia positiva, de ânimo para enfrentar as dificuldades. O tempo nos ensina
que nada é eterno, nada vive para sempre, que tudo na vida é cíclico, e que
durante nossa trajetória temos que ter fé, fazer o nosso melhor, dar o melhor
de nós aos outros procurando ter a consciência que viveremos melhor se
conseguirmos nos colocar no lugar do outro e avaliar o que ele pode estar
sentindo como forma de procurarmos ser mais justos, menos críticos e com isso
viver em paz e harmonia. O tempo nos ensina a aparar as arestas das situações
mais difíceis e perceber que sentir o tempo passar é ganho, mesmo que as coisas
não se desenrolem como desejamos, pois só sente o tempo passar quem está vivo.
O tempo está perdido para quem já morreu e não tem mais a possibilidade de
consertar ou resgatar nada. Aí, nem mais os medos existem.
Isabel C S
Vargas
Pelotas/RS/Brasil
12.O9.2O15
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