Jerusa
fora uma criança carente de afetos. Família nuclear. Sem avós, pois moravam em
outro estado. O pai viera tentar a sorte na cidade grande. Trabalhavam ambos, o
pai e a mãe. Até entrar no colégio criou-se em creches. Nada contra as
instituições em si, porém é sabido que nas creches públicas o número de
atendentes, geralmente, é menor que o necessário para o número de crianças. A
sensação que ela sempre teve era de fragilidade. Almejava proteção. Aos dez
anos, ansiava crescer para se sentir mais forte, com menos medos porque o tempo
havia passado e já estava na escola regular. No turno inverso ficava só em casa
o que causava certo temor nela e nos pais. Residiam na periferia e, embora não
fosse tão violento o subúrbio como agora, uma criança só em casa era algo
preocupante para a família.
A maturidade de seus vinte anos deu-lhe a certeza que só se sentiria segura o
dia que tivesse alguém só dela: um amor. Via na televisão, nos romances que lia
o quanto era bom sentir se segura ao lado de alguém. De forma às avessas ao que
se concebe na atualidade só se sentiria completa se tivesse a outra metade para
protegê-la. A pobrezinha não percebia que cada um tem que ser completo para
poder trocar em um relacionamento amoroso. Ela queria proteção para o resto de
sua vida. E foi assim que encontrou Lauriano, um jovem policial militar que foi
destacado para serviço no posto daquela localidade. Quando o viu teve certeza
que era seu príncipe encantado. Esperara por ele desde sua infância. Alto
forte, bonito, cabelos e olhos negros, pele clara, voz firme, segura e um olhar
penetrante que desvendava a alma cada vez que a olhava. E, o uniforme! Ah, para
ela era a armadura de um herói, O herói de sua vida que viria salva-la para
sempre daquela sensação de não ter chão, de viver à beira de um abismo. Seus
braços eram as asas que iriam resguardá-la de todos os males e ao mesmo tempo
levá-la a voar bem alto, acima das nuvens nos momentos de amor, prazer e
feitiço. Sim, sentia-se enfeitiçada por aquele homem que era belo, carinhoso
e tinha poder na comunidade e, o mais importante a amava também.
Assim começou o relacionamento de ambos, realizando seus sonhos de amor,
pertencimento, proteção e supressão das carências da infância.
Viveu feliz no seu maravilhoso ninho de amor que eram os braços do amado
e que representavam as asas sob as quais ela materializava sua felicidade.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
O3.2.2O15
Nenhum comentário:
Postar um comentário