Tudo pelo teu sorriso...
Ele é
aquele tipo de pessoa que denominamos invisível. As pessoas passam o vêem mas
não enxergam. Ao serem questionados não saberiam descrever. Afinal, quem nota
mendigo, morador de rua, gari, pois para a maioria da sociedade não existem.
Não tem prestígio, não formam opinião, não consomem ou gastam o mínimo, são
classe D/E. Em uma sociedade de castas seriam párias, intocáveis, impuros.
Assim, ele, a pessoa desta
narrativa, não desperta a atenção das pessoas que passam na rua, apesar de ele
ter quase 1,90 cm
de altura. Cabelo crespo, longo e desgrenhado. Veste um tênis rasgado, uma
calça de abrigo um tanto curta, camiseta surrada. As roupas são surradas, mas
não são sujas. Ele cata latas nos latões de lixo. É magro, e não tem aparência
que possa assustar as pessoas.
Ela, a moça passou por ele sem o
notar. Ao atravessar a rua para entrar no carro ele a chamou e disse. Eu te
conheço. Ela, a princípio, ficou surpresa. Não sabia o que responder. A
surpresa aumentou quando ele mencionou o nome do pai, o sobrenome de família e
de onde ele a conhecia. Curiosa, ela indagava quem ele era. Não dizia o nome,
não dava dados precisos, mas ela sabia que ele a conhecia mesmo. Ficou emocionado
quando ela relatou que perdera familiares que ele conhecia e de quem pedira
notícias Seus olhos encheram-se de lágrimas. Ela insistiu. Perguntou se ele era
guardador de carros no local. Ele não respondia. Falou das dificuldades.
Juntava latas para garantir a alimentação do dia. Sonhava em ter um cantinho
onde pudesse dormir sem ter que acordar com alguém morto ao seu lado. Outra
dificuldade era conseguir roupa e sapato de seu tamanho. Perguntou se ela
poderia ajudá-la. Deu-lhe tudo que tinha na carteira que era pouco e saiu dali
impressionada por não saber quem era.
Prometeu conseguir roupas que pudessem servir-lhe.
Foi com esta sensação que chegou a
casa e relatou o ocorrido. Os membros da família, mãe e irmãs ficaram a pensar
e pela descrição física, as três deram o mesmo nome. Lembraram de uma única
pessoa. Mas custavam a acreditar, pois o indivíduo que lembravam era um rapaz
bonito, elegante, com um lindo sorriso, era formado em curso superior, casado e
tinha filho.
Buscaram informação com parente
que exercia a mesma atividade dele. A confirmação veio. Cruel. Desoladora.
Inaceitável, mas verdadeira. Ele havia se tornado um alcoólatra motivo pelo
qual houve a separação. Inconformado, passou, posteriormente, do álcool, para
uma depressão profunda e, a seguir, para as drogas mais pesadas.
Vendeu tudo que tinha, inclusive,
apartamento para sustentar o vício. Passou a levar a vida em que foi
encontrado. Nessa vida já se vão mais de dez anos.
Ficaram todos chocados. A
depressão, o vício, a falta de ajuda adequada podem tirar o sorriso, a vida, a
dignidade de um homem.
Ela, a jovem tornou a passar,
alguns dias depois, no local em que o encontrara.
Tentava reencontrá-lo. E, sorte
ou destino o achou. Relatou que já sabia quem ele era. Conversaram bastante.
Ela ofereceu ajuda, disse que apenas uma palavra afirmativa dele e seria
encaminhado para tratamento por um grupo que ela pertence que atende
dependentes químicos. Nada pode ser feito sem o seu consentimento. A decisão
será sua. Um grupo de pessoas espera pelo seu sim para encaminhá-lo para uma
nova proposta, um novo caminho, no qual poderá recuperar a saúde, a sanidade, a
vida, a dignidade, o sorriso e a esperança de futuro.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/ Brasil,
O1,O2,2O15
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