VALQUÍRIA
HODIERNA
ISABEL C S VARGAS
As Valquírias eram mulheres de
controvertido significado, assim como as mulheres de agora. Poderosas para uns,
de nem tanta valia para outros, pois à época podiam ser mensageiras de bons
augúrios como da morte.
Vestiam armaduras, cavalgavam lindos
corcéis. Hoje vestem uma armadura de coragem para vencerem os obstáculos existentes
na sociedade que as contemplam com menores salários e mais tarefas pela eficiência
que apresentam nos mais diversos campos profissionais.
Era tradicionalmente cantada pelos
poetas assim como as mulheres de hoje, cuja beleza é fundamental, como já
cantou o poeta; são porta-vozes de boas novas- quando agradam ao seu homem,
marido, companheiro ou senhor- ou malditas quando os condenam ao degredo
emocional, quando não mais os amam, fazendo-se por isso, segundo o entendimento
masculino, merecedoras da morte, da tortura, do cárcere privado. Pobre deus de
pés de barro que não suporta uma negativa feminina e que não percebem que “quem
ama não mata”. Quem ama cuida.
Sempre estavam inseridas nas
descrições de batalhas, Também o estão agora, pois se fazem presentes no lar,
nas escolas, onde preponderam, nas mais variadas atividades, inclusive no
judiciário sendo responsáveis pela sentença de quem tem razão ou não, quem é
condenado à morte (de uma vida encarcerada) ou não.
Eram protetoras, traziam encantamento,
sorte e eram ligadas a certas famílias.
Descrição esta que se enquadra aos
espíritos femininos ao longo da história da humanidade, inclusive na
atualidade,
Existe alguém mais protetor que uma
mãe amorosa e fervorosa dedicada a proteger sua cria encaminhando-a para o bem
para o sucesso e para o caminho da felicidade?
Eram companheiras, mulheres dos
heróis. E o homem honesto, parceiro honrado, protetor, amigo que procura dar
amor, segurança, e bons exemplos para a sua família não é também um herói, em
uma sociedade consumista, com valores pervertidos, onde impera em muitos locais
a violência, a corrupção e a droga que destrói famílias inteiras não é também
um herói?
Não vive a Valquíria hodierna em
uma guerra constante? Mora em ambientes de permanente guerra nas comunidades de
periferia nas quais quem sai de casa para ganhar o pão ou para estudar são
abatidos por bala perdida, ficando o culpado à solta e a justiça desacreditada?
E, o encantamento que eram
capazes de produzir? De libertar, de prender, de curar. Não são os mesmos
encantamentos que as mulheres promovem encantando os homens e aprisionando-os
através do amor e sedução vivendo juntos ano após ano, de darem à luz,
promoverem a vida, sendo verdadeiras divindades ou fadas para seus filhos
pequenos, para quem só importa a mãe, que prove o seu sustento através de seu
próprio corpo? Não é mágica quando alivia dores a um simples afago?
E quando entoam cânticos de louvor
a Deus, de amor à vida ou cantigas de roda para trazer alegria para as
crianças?
Valquíria não tem idade. Elas podem
ser os espíritos que habitaram corpos nórdicos, como podem ser espíritos que
habitam corpos nos países infestados pelo ódio onde não querem deixar que os
espíritos femininos evoluam não as deixando freqüentar escolas, como podem ser
espíritos que habitam corpos nas comunidades indígenas pelo mundo, ou que
habitam corpos de mulheres envelhecidas pelas agruras da vida na campanha ou
nas palafitas, ainda de mulheres jovens que buscam sucesso e são massacradas
pela mídia produzindo um estereótipo de mulher perfeita que elimina todas as
outras provocando uma eterna insatisfação das quais só não sucumbem por terem
forças dentro de si para superar essa masmorra invisível e emocional.
Valquírias existem hoje e estão
em constante vigília para promover equidade e justiça. Basta querer
enxergá-las, compreendê-las.
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