quinta-feira, 7 de maio de 2020

TEXTO 42/2020/MEUS MEDOS E MINHA FÉ


TEXTO 42/2020
                                  


                                                 MEUS MEDOS E MINHA FÉ



Estou com quase setenta anos e sinto-me como se estivesse revivendo o passado. Isso se deve ao sentimento que ora me acompanha. Medo! Um medo real. Absurdamente real. Tal qual o medo que me assaltava na infância por temor de perder as pessoas que amava.
Quando meu irmão adoeceu, com cerca de um ano e eu com cinco, lembro de meu desespero por ele não conseguir urinar, com febre, chorando de dor e minha mãe aflita por não ter dinheiro para remédios. Quando mencionaram que o levariam ao hospital aquilo me soou como se fosse perde-lo. Uma agonia para uma criança.
Quando eu tinha menos de dez anos eu morava  cinco quadras de minha escola, na mesma rua. Minha mãe mandava-me sozinha para escola para não ter que ir acompanhada de mais duas crianças, meus irmãos menores.
Eu ia percorrendo o trajeto e pedindo a Deus para logo chegar meus dez anos porque acreditava que com esta idade não teria mais medo.
Alguns anos mais tarde minha irmã caçula foi acometida de varíola. Ela ficou em isolamento dentro de um quarto na casa de minha avó para não ter contato conosco. Isso por orientação do médico porque senão ela teria que ser afastada de casa.
Por motivo de meu pai ter ido trabalhar em outra cidade, por um tempo, fomos morar na casa desta minha avó materna que era inválida. Vivia na cama e era cega. Um anjo! Passava, quietinha, ouvindo rádio de pilha sem se queixar de nada ou ninguém.
Meu medo, naquela época, que me fazia rezar todas as noites, era o de vovó
morrer enquanto morávamos lá porque eu lembrava do velório de meu avô, na sala da casa. E, eu não queria enfrentar isso de novo, morando no mesmo local.
Cresci e pensei que os medos ficariam esquecidos na infância,  mas não, depois que temos filhos, não sossegamos mais. Enquanto o último não está repousando na cama, não conseguimos dormir.
E sem saber o que a vida me reservava, enfrentei a perda de meu filho caçula em um acidente automobilístico. Sobrevivi, apesar da dor. Enfrentei a viuvez porque meu marido adoeceu em decorrência da perda. Mais uma vez, a fé foi meu alicerce, minha força, aliada ao apoio de muitos amigos.
Hoje, com filhos adultos, cinco netos, a mais velha com vinte e um anos recém feitos ,sem comemoração , continuo rezando sempre, diariamente, tal qual na infância pedindo à Deus saúde para toda família e cura para os enfermos e proteção para nós.
Jamais imaginei que com todos os avanços médicos, farmacológicos e tecnológicos  enfrentaríamos uma pandemia que nos faria ver e, sobretudo sentir a vulnerabilidade de ser humano, que muitas vezes se comporta como um Deus pelos poderes que acredita ter.
E, mais uma vez, só resta orar e junto com as ações preventivas, pedir ajuda divina.


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