NOTÍCIAS DO ALÉM
Chamei um carro pelo
aplicativo, como sempre faço quando desejo sair. Para quem gosta de um papo foi
a melhor coisa que inventaram nos últimos tempos, principalmente para alguém
como eu, que passo a semana inteira sem conversar com alguém. Isso não é
queixa, é constatação. Gosto porque encontramos pessoas de todas as idades,
cada um com uma história de vida e objetivos diversos. Em comum, a necessidade
de ganhar a vida enquanto não se estabelecem em algo relacionado àquilo para
qual se prepararam. Biólogos, arquitetos, professores, estudantes, pessoal da área
de exatas. Desta vez entrei em um carro dirigido por uma mulher, que me pegou
em casa. Jovem, cabelos longos, tatuada, comunicativa. Sentei ao seu lado e
começamos a conversar. Os assuntos, geralmente, versam sobre o país, a situação
econômica, a crise que assola o estado, o tempo, a situação precária das vias
do balneário, dificuldades do dia a dia, família, etc. Sinceramente, não recordo nosso assunto
inicial, só que eu dei uma risada e disse que eu já era velha, ao que ela
retrucou de forma veemente dizendo que isso não era verdade. Posso não
aparentar, respondi, mas sou velha, sim, e informei minha idade. Simpática ela
afirmou não parecer. Enfatizei que já havia vivido coisas ruins ao que ela
indagou se eram perdas. Respondi de forma afirmativa, salientando que já tinha
tido várias perdas, inclusive a de um filho. Desejou saber mais sobre ele ao
que respondi, pois não me furto de falar. É assim que o mantenho sempre vivo em
mim. Ao término do relato ela me fala em religião, com quem tinha trabalhado, e
me pergunta se meu filho era moreno, alto, forte, porque ela via alguém assim
próximo a mim. Disse-lhe as características de meu filho e que sabia a quem ela
se referia. Pelas coisas que me falou identifiquei meu irmão. Ao nos
despedirmos, pediu para me abraçar, ao que respondi de forma afirmativa e um
tanto sensibilizada.
Ao chegar no local
para o qual me dirigia ouvi mensagem no celular e vi que era de meu sobrinho,
filho desse meu único irmão e que eu já havia pensado em chama-lo para
saber notícias dele e meus sobrinhos-netos. Há dois anos que não nos
encontrávamos.
A última vez foi no funeral de meu irmão. Ao começar a relatar o
ocorrido a ele, comecei a chorar por perceber que era exatamente este dia que
completavam dois anos de seu falecimento.
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