CONFISSÃO
INTERIOR
Percival nasceu próximo ao mar. Vivia com a
família em uma pequena vila entre a cidade e o mar. Pobre desde o berço. A mãe
não tinha estudado. Mal sabia escrever seu nome. O pai cedo abandonou a
família, o que fez com que todos fossem trabalhar desde pequenos, ele, a irmã
mais velha e o irmão mais novo.
Esta
situação gerou revolta, o que o tornou uma pessoa muito amarga, contestadora e
briguenta. O fato de colocar dinheiro em casa para o sustento de todos, o fazia
pensar que não devia satisfação a ninguém. Cedo abandonou a escola. Fazia de
tudo que surgia para ganhar algum dinheiro com o intuito de ajudar Dona Judite
e os irmãos.
Pescaria era
um de seus entretenimentos. O outro era o futebol. Ambos favoritos.
Adorava ir
pescar no mar, na lagoa. Quando os pescadores o convidavam para sair de barco,
nem pensava duas vezes.
Viveu a
infância e a adolescência entre essas duas atividades enquanto não estava
trabalhando na mercearia fazendo pacotes, entregando recados, colhendo flores
para vender na missa de domingo ou nas ocasiões festivas.
Lá pelos
seus dezoito anos conheceu Amarílis, uma linda jovem morena que logo tomou
conta de seu coração.
Como não
tinha emprego fixo foi tentar a sorte no clube de futebol da cidade.
Como tinha certa habilidade ali ficou contratado o que lhe
rendia um salário. Casou-se com Amarílis e teve dois filhos. Assim viveram
durante uns cinco anos até machucar-se seriamente, tendo que parar de jogar
futebol.
Sem emprego
caiu na bebida, sem se importar com a esposa que sofria e com os meninos.
Restava-lhe
a outra paixão para desafogar as mágoas. Em todos os momentos que podia pegar o
barco de seus companheiros de infância, o fazia e ficava ao mar durante horas a
fio e, também, a beber. Por vários meses assim ficou, vivendo á margem,
desgostoso com tudo, sentindo-se injustiçado. Não percebia o que tinha de mais
valioso, sua família.
Em meio à solidão em um dos momentos que
estava embarcado, sob o efeito da cachaça que não abandonava , sonhou com a
esposa, jovem formosa, delicada que vinha cobrar-lhe uma atitude diferente,
para o bem de ambos e dos filhos. Em seu sonho que virava pesadelo ela o
interpelava e dizia-lhe que iria abandoná-lo e a seguir desaparecia, assim como
aparecera, envolta em uma nuvem azul espiral.
Apavorado
com a situação ele via-se no mais profundo desespero e confessava a ela todo
seu amor.
Era uma confissão intensa, silenciosa,
saída do mais profundo de seu ser, desesperado pela força de seu amor.
Depois de
acordar e sair do torpor que se encontrava, percebeu que deveria dar outro rumo
em sua vida para não perder de vez o controle da situação e perder a esposa.
Decidiu
procurá-la, abrir seu coração e tentar colocar no caminho certo o barco de sua
vida.
Isabel C S Vargas
Pelotas/RS/Brasil
24.06.2016
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