domingo, 4 de setembro de 2016

TEXTO 187/2016/ PLANTAR E COLHER: UM APRENDIZADO DE VIDA(CRÔNICA)

          
 PLANTAR E COLHER: UM APRENDIZADO DE VIDA.                                                  (CRÔNICA)

          Em meados dos anos setenta meu sogro comprou um sítio na zona rural da cidade, local este que se emancipou alguns anos depois e adquiriu autonomia sendo um município vizinho muito ligado à nossa cidade.
         Na época meu marido e eu ainda éramos namorados. Com a aquisição da propriedade passou a ser local de recreio semanal. Durante um tempo não deu para ser chamado local de descanso por serem muitas as tarefas para adequá-lo ao lazer da família.
         O local ainda era distante dos problemas que atingem a sociedade de hoje na questão da violência e segurança.
           A vizinhança era acolhedora e o local propício ao plantio e ao lazer pelo espaço e as oportunidades que oferecia.
            No local já havia muitas árvores frutíferas plantadas. Toda aquela região era área de lazer rural das famílias da nossa cidade.
             Havia laranja, bergamota, lima, pera, cáqui, goiaba, ameixa. Ah não posso esquecer que havia nozes, que eu adoro e que ainda comi de lá poucos anos atrás.
            O trabalho inicial era fazer a limpeza do terreno, a poda do que necessitava ser podado e, posteriormente ver o que mais seria plantado.
          Resolvemos plantar pêssego que é uma fruta característica desta região. E nessa atividade me incluo pois coube a nós fazermos o plantio experimental em um canto da área. Não havia empregados para realizar as tarefas, era tudo em família. A tarefa, em realidade era diversão, exercício físico e mental.
              Só meu marido e eu plantamos cerca de trinta pessegueiros. E eu jamais esqueci isso.
Foi maravilhoso ser responsável por algo que depois vimos desenvolver e servir de alimento para toda a família, colhidos diretamente no pé ou em forma de doce em calda ou pessegada feito por minha sogra. Plantar e colher é uma atividade excelente para o corpo e a mente. Mostra a capacidade de cuidar da terra e dela extrair seus frutos, procurando fazer o melhor para ela e para o ser humano. Sei que muitos não fazem isso, mas respeitar a terra surge ao natural para quem não a usa como instrumento de enriquecimento através da exploração extrativa, agrícola ou para industrialização. O sentimento de gratidão que surge ao ver nascer aquilo que foi plantado por nossas próprias mãos é maravilhoso.
          Mas não ficou só nos pêssegos. Plantamos morango, mais meu marido e meu sogro.
Ajudei no transplante das mudas, na colheita e em comer, evidentemente. Outra atividade que fizemos com muita alegria foi plantar milho e prazer maior tivemos ao comê-los assados na brasa, ao ar livre nas tardes de sábado e domingo que lá passávamos.
        Plantar nos ensina muita coisa para a vida toda. O trato com a terra, o cuidado necessário para o desenvolvimento do que foi plantado, a paciência da espera, o respeito ao outro na medida que tudo que era colhido era desfrutado com a família, os amigos, vizinhos evitando o desperdício.
       Lá com os vizinhos conheci o sabor da tangerina que plantamos, posteriormente, para o consumo familiar.
        Não poderia deixar de falar nas maravilhosas parreiras, com uva branca, rosa e escura, tomando todo um corredor de frente a fundo do sitio, de uvas muito doces e que tínhamos que colher tão logo estivesse no ponto, senão virariam comida dos passarinhos e das abelhas. Confesso que minha atividade foi só colher e saborear.
       Aprendi que a colheita está sempre ligada a atitude de cada um. Creio que por isso encontramos tanta sabedoria no homem do campo, que pode não ter escolaridade, mas é ele mesmo uma escola, sendo um mestre em repassar sua sabedoria empírica que não devemos desprezar.
       Aprendi como nada nesta vida é isolado, que todas as ações praticadas têm uma consequência, que somos responsáveis por nossas atitudes e que o resultado das mesmas poderá atingir muitas pessoas.
        É necessário ter cuidado com tudo, no sentido de respeitar a natureza de cada um. Plantar com amor, colher com alegria, distribuir por obrigação, saborear por prazer e, repor por gratidão, lembrando sempre que só colhemos coisas boas, se as plantarmos ao longo da vida, como plantio efetivo, ou com palavras e ações ao longo de nossa jornada.
                                                   Isabel C S Vargas
                                                   Pelotas/RS/Brasil
                                                    04.09.2016




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