sábado, 9 de abril de 2016

TEXTO 79/2016/ANTOLOGIA 78 / O VERMELHO E SUAS IMPLICAÇÕES EM MINHA VIDA/(CRÔNICA

                        O VERMELHO E SUAS IMPLICAÇÕES EM MINHA VIDA (CRÔNICA)
                             


        Nunca tive predileção pela cor vermelha. Durante anos acreditei que minha cor preferida, o verde, se devia ao fato de gostar muito de campo, da natureza, até que descobri que minha paixão era o mar.
       O vermelho parecia-me intenso, inquietante vulgar. Como sou uma pessoa mais calma acredito que me identifico mais com essa cor menos inquietante, e com um componente mais frio.
       Em minha juventude o vermelho era associado aos partidos políticos de esquerda, comunista, socialista o que já me bastava para me distanciar o mais possível desta cor. Vivíamos em uma ditadura. Os meios universitários eram conturbados. Cautela era necessária.
      Em momentos importantes de minha vida, tais como aniversários de meus filhos, casamentos, formaturas, outros eventos jamais usei vermelho. Acreditava que em nada combinava comigo.
    O vermelho está associado à paixão, excitação, energia, poder, guerra, perigo e violência. Tudo que eu queria longe de mim.
    Isso tudo me assustava. Tinha medo do que poderia ocorrer. Era de minha personalidade, ou, talvez, seja, manter controle de tudo para me sentir segura. Dominar a situação. No caso da paixão, “perder a cabeça” era algo que não passava pela minha.
    Minhas filhas frequentavam muitas festas. Não me recordo de o vermelho ser preferência em seus guarda-roupas, apenas no da mais nova, de quem me lembro de, apenas, dois vestidos, sendo um de gala, vermelho, bordado para uma ocasião especial. Mais tarde de um vestido vermelho de minha neta com saia plissada.
    Meu marido sempre sonhou em ter um automóvel vermelho. Nunca o tivemos. Eram todos em tons de cinza, prata, grafite e branco. Quando meu filho comprou com suas economias seu primeiro carro, zero km e pediu ao pai que fosse retirá-lo na chegada pois estaria dando aulas em outra cidade fiquei feliz por ele estar realizando um sonho através do filho.
   Não imaginávamos que aquilo que trazia aparente alegria viria s ser o vermelho sangue do perigo, da violência e da dor mais intensa de nossas vidas, mutilada desde a data fatal.
   Acredito que o não gostar poderia ser um pressentimento de mãe.

                                            Isabel C S Vargas
                                               Pelotas/RS/Brasil

                                                    06.04.2016

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