terça-feira, 15 de setembro de 2015

MEU TEXTO EM A MULHER DE BRANCO...


Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS
 
Segredo bem guardado 
 
Terezinha era solteira. Os vizinhos a chamavam de Balzaquiana devido à idade. Isto lá na década de sessenta. Nunca tivera namorado. Não era uma pessoa que se destacasse pela beleza física. Era de pouco sorriso, tímida e muito severa. Os familiares atribuíam sua falta de bom humor ao fato de ser a única da família que ainda não havia casado.
Certa ocasião chegou a sua casa uma carta vindo de outro estado. Isto aguçou a curiosidade de seus genitores. Como ela estava recebendo carta de outro estado se não tinha amigos lá (?), suas amigas eram as primas e umas duas outras companheiras com as quais ela ia ao cinema. Sua diversão era ir ao cinema e ler revistas e romances. Outra curiosidade era que a carta não indicava o nome do remetente.
Aquela foi, apenas, a primeira de uma sucessão de outras ao longo de uns cinco anos.
Ao ser inquirida respondia que era um amigo que fizera contato através de uma revista.
As cartas, ela guardava em uma caixa de calçados que forrara com papel colorido enfeitado com amores perfeitos e corações rosa. Guardava-as repletas de cartas, cartões de Natal, de aniversário em uma porta da cômoda fechada à chave.
Certa ocasião, para surpresa de todos, rasgou todas as cartas, uma a uma, com o mesmo cuidado com que as guardara. Ficara mais triste e amarga do que antes, pois agora não tinha mais a correspondência que a alegrava. Nunca contou aos pais quem escrevia, o que acontecera e porque deixara de receber as missivas.
Quando uma das sobrinhas cresceu e começou a se corresponder por carta com uma pessoa ela a aconselhou a não fazer aquilo. Era perigoso, não sabia com quem estava conversando e poderia estar perdendo tempo e contando coisas particulares para um desconhecido que poderia ser casado, malfeitor ou até um presidiário.
Foi o máximo que ela falou dando indícios do segredo que ela guardara todos aqueles anos.
 

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