quinta-feira, 25 de junho de 2015

PUBLICAÇÃO PREMIADA / SEGUNDO LUGAR/ PROSA/Moças na janela: Retrato de um tempo nostálgico.

        Nos tempos de outrora, a vida era mais calma, as atribulações e exigências menores e as pessoas desfrutavam os momentos de maneira mais singela.
Hoje, as elas estão sempre conectadas via aparelho celular, assim sabem onde o outro (marido ou filho) se encontra, quanto vai demorar, quais as voltas a serem dadas. Não existe a expectativa de o outro chegar a casa e contar as novidades, pois estas já foram contadas ao longo do dia em inúmeras mensagens de SMS, ou conversa telefônica,
          As mulheres, os filhos, quem fica em casa espera o que está para chegar assistindo TV, lidando nos computadores, escutando música, as tarefas da casa, ou fazendo quase todas as opções simultaneamente. Muitas vezes, o que chega nem um beijo recebe ou dá e já se junta ao alheamento dos demais, estando todos na mesma peça e distantes um do outro.
        Sou do século passado. Nasci em uma época que as mulheres estavam começando a ter direitos. Seu universo era mais restrito, suas alegrias mais simples e seus desejos mais tímidos.
     Era comum, à tardinha, depois dos deveres da escola devidamente realizados, banho tomado, ficar  à espera do pai chegar à janela vendo o movimento das pessoas passarem retornando a seus lares após um dia de labuta,
     Era hábito se cumprimentarem, os vizinhos mais próximos trocarem uma palavrinha, quando passavam na calçada defronte, acenarem, gentilmente. Os moradores do mesmo quarteirão se conheciam, e até de outros que sempre faziam o mesmo trajeto.
          Na janela muitas jovens arranjavam pretendentes. Trocavam olhares, sorriam timidamente, tudo tentando driblar o olhar atento dos mais velhos. Conversar com alguém estranho era raro e demandava autorização. Tudo muito rápido, pois as moças logo eram chamadas a entrar. Moça de família não conversava com estranhos senão poderia ficar “falada”.
         Todos se tornavam conhecidos Era bem diferente de hoje que muitas vezes não se conhece o vizinho de porta no apartamento.
        As meninas e as moças ficavam juntas na janela, outras vezes na companhia da mãe. Não havia temor de assaltos como hoje quando muitos mantêm as janelas fechadas e gradeadas. A vida era mais tranqüila, mais leve, as pessoas mais solícitas e próximas. As amizades de vizinhança , em geral, duravam uma vida inteira. Os tempos mudaram e hoje a ênfase é na amizade virtual que muitas vezes ao se encontrarem pessoalmente nem se reconhecem.
           Já não encontramos moças na janela...

                   Isabel C S Vargas                                         
                   Pelotas/RS/Brasil

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