sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

PUBLICAÇÃO DESTACADA PEAPAZ QUEM CALA CONSENTE

            Cardoso trabalhava na contabilidade de uma empresa. O local possuía uma área imensa, muitos funcionários, porém com uma administração arcaica, ultrapassada e por demais desorganizada.
           Embora ele não tivesse terminado o colegial era muito bom em cálculos. Possuíanoções de rotinas administrativas e de contabilidade, por isso conseguira a vaga.
          Embora visse os erros ocorridos no local de trabalho, não tinha autonomia para impedi-los de acontecer. Seu posto não lhe permitia fazer mudanças. Tinha consciência que a empresa teria sérios problemas se os erros persistissem, principalmente pela falta de cuidados com o caixa, com estoque.  Ninguém coibia os abusos.
          A despeito de tudo, seguia fazendo o trabalho que lhe cabia, mesmo vendo as irregularidades se acumularem.
          O superintendente agia como se não tivesse conhecimento dos fatos. Ele, por sua vez, não tinha coragem de falar no assunto, nem delatar ninguém ou apontar os erros que tinha conhecimento.
          Ora, quem cala, corre o risco de ser encarado ou indiciado como cúmplice de tais falcatruas. Isso era o que lhe passava nos pensamentos nas horas mais aflitivas.
          Ficou calado durante uns três anos.
          Até que o escândalo estourou. Demissões, investigações, grandes constrangimentos e o que ele temia aconteceu. Todos demitidos, inclusive ele.
          Vergonha, desolação, dificuldades de explicar para a esposa e aos filhos o ocorrido. Aliás, nunca explicou. Aceitou a culpa pela omissão.
          Vivia em uma cidade pequena, difícil tornou-se arrumar outro emprego. Rumores, maledicências correm como penas ao vento. Não sabia como fazer para sustentar a família.  Tantas coisas a serem pagas, nada de luxo, só despesas básicas de aluguel, alimentação, educação. E ele nunca permitira que a esposa trabalhasse. Sentia-se acuado.
          Então, foi embora para a cidade grande. Lá seria só ele.  A família não passaria dificuldades. Além disso, o peso das acusações seria mais leve de carregar em um local onde não o conhecessem.
          A mulher vendeu os móveis e foi com os filhos para a casa da mãe.
          A família dele nada fez, para ajudá-los.
A condenação caíra sobre ela e o filhos também.
           Ficara sem marido, sem teto, sem perspectiva.
         
                                            ISABEL C S VARGAS
                                            PELOTAS/RS/BRASIL
    

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