sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O ESPELHO E O TEMPO (PROSA)

Ela sentou-se à frente do espelho. Não como fazia quando era adolescente que procurava ver se estava bem, toda vez que passava diante de um, fosse pequeno ou grande. Obsessão de todo jovem para senti-se seguro.
Agora era diferente. Era uma pessoa madura, em outra época da vida, com muitas vivências de todo tipo. Perdas, ganhos, alegrias, tristezas, coisas naturais da existência.
Ao primeiro olhar não se assustou.  Viu uma imagem serena. Não  acabrunhada pelos anos, mas de quem está em paz. Só os tolos acreditam que a vida é feita de felicidade eterna. Não, a vida é feita momentos. Temos que esgotar todos eles, tanto os bons como os ruins para passar para nova etapa. O que vê, então é uma imagem e um olhar de aceitação. Da vida e das consequências dela.
Quando jovem todos elogiavam sua beleza. Hoje já não tinha mais a pele viçosa, mas não era de todo ruim. As sobrancelhas um tanto arqueadas como a indagar da vida e de si mesmo o que viria a seguir.  Estava preparada para o futuro. Já havia feito um lastro de emoções que lhe davam força para enfrentar novos desafios. Só quem está morto não sofre. E se o sofrimento aprimora, ela se sentia aprimorada pelas atribulações que a vida a presenteara. Já não tinha a boca marcada como de outrora e as linhas de expressão estavam mais marcadas. Mas isso significava que ela tinha vivido o suficiente para armazenar experiências diversas, um aprendizado relevante o que a tornava uma pessoa interessante no trato com os outros.
Apesar das dores e tristezas era uma pessoa que cultivava a esperança e a alegria. O olhar ainda conservava certo brilho. Ainda sorria com o olhar. Sentiu-se satisfeita com o exame e o próprio sorriso no fundo dos olhos esverdeados onde enxergava sua alma.
Deixara um rastro de alegria, amor, amizade, perseverança, gentileza em seus locais de trabalho, em suas relações pessoais de amizade, familiar e sentia-se uma pessoa bem amada, bem sucedida e satisfeita. Vivia perto da família, ainda tinha muitos planos para o futuro e muitos sonhos a realizar. A imagem no espelho se mostrava por inteiro e sem subterfúgios. Não tinha nenhuma maquiagem a disfarçar nada e o resultado a deixava em paz. Sua alma está em paz. Podia perceber tudo isso sem mágoa ou angústia. Estava pronta para seguir em frente e desfrutar o que a vida ainda podia lhe apresentar. A reflexão era produtiva. Descansada fechou os olhos e suspirou tranquila. Não precisava buscar mais nada no espelho. Estava tudo gravado em seu coração.
                                             Isabel C S Vargas
                                             Pelotas/RS/Brasil

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