quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

  


“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Mario Quintana
                  
                       Meu marido sempre gostou muito de flores. Era um afazer favorito cuidar das plantas desde que se aposentou e mais ainda, depois que passamos a viver na praia, há cinco anos.
                       Nosso jardim não é grande, pois a casa também não é, mas já tivemos muitas alegrias com ele. Na parte externa da casa temos dois hibiscos que cresceram tanto e por isso ele o arranjou de forma que seus galhos formassem um arco. Este arco fica bem na frente da garagem servindo de sombra para o carro,
Ao lado, há outra árvore que enfeita a frente de minha casa. Mais à direita temos uma árvore chamada periquiteira que os pássaros adoram e vem comer suas frutinhas vermelhas, mais uma pitangueira, e mudas de Hortência branca,
                          Mais próximo ao alpendre já tivemos pinheiro, Ah e esse foi maravilhoso. Plantamos quando compramos a casa e estava grávida de meu filho. Este pinheiro embalou meu filho e minha neta mais velha em seus galhos onde prendíamos o balanço. Ele foi árvore de natal, enfeitado todos os anos com luzes, e/ou enfeites criados em casa. Uma alegria. Felicidade inesquecível. Passaram- se os anos e suas raízes começaram a prejudicar a casa. Entupiam o encanamento, levantavam o muro, e em função do tamanho e da inclinação- passava da altura do sobrado do vizinho meu marido decidiu cortá-lo. Não sei explicar a intensidade da dor que tomou conta de mim. Fiquei muito mal. Escrevi sobre isso. Era como se estivesse cortando um filho meu, pois o associava ao nascimento de meu filho. Após alguns meses de seu corte, perdi meu filho aos 23 anos em um acidente. Não estava errada em meus pressentimentos.
                         Cada dia mais meu marido se dedicou a cuidar das plantas, local onde ele sufocava a dor ou a exteriorizava chorando sozinho. Fazia canteiros inteiros de amor-perfeito. Fotografava tudo que tinha no jardim, até os cogumelos que apareciam nos restos das raízes do pinheiro que não puderam ser arrancadas e ficavam à mostra. Fotografava os pássaros, a quem passou alimentar cotidianamente com potes pendurados nos galhos das árvores. Beija-flores eram e continuam sendo meus convidados de honra. Refiro-me só a mim, pois a dor levou meu marido quase três anos depois de meu menino. Contraiu uma doença auto-imune que lhe roubou as forças, a vontade de viver e o jardim ficou para eu cuidar.
           Acrescentei orquídeas presas no tronco das árvores, às que ele já tinha plantado.
          Passei a plantar em vasos que para mim ficou mais fácil. Adoro meus lírios da paz.
Cuido do jasmim miúdo muda daquele que havia no sítio de meu sogro que já relatei em outra crônica. Hoje, meu jardim abriga, livremente, pássaros, no mínimo cinco bentevis que vivem aqui. Não é história não, eles vivem nas árvores ao redor de minha casa, mas é aqui que eles comem diariamente. Coloco comida para eles que não satisfeitos comem a ração dos cães. São muito atrevidos junto com as pombas. Se deixo o saco de alpiste à mão, e não há mais no prato, eles bicam e abrem o saco e espalham por todo  lado a comida. Quando abro a porta pela manhã eles me chamam, Não é loucura. E, eu respondo: - Bom dia meus bentevis. Que gritaria é essa? Querem comida ou estão a me dar bom dia?
            Quando eu era pequena e via borboletas grandes eu tinha medo. Hoje eu as amo, pois desde que aqui ficamos morando elas aparecem em quantidade. Meu marido as fotografava e seu divertimento lhe rendeu mais de uma exposição fotográfica sobre a natureza que nos cercava. Uma chamou-se Criaturas e foi dedicada ao meu filho e a outra se chamou Universo singular. Sua sensibilidade era muito forte, extravasava e isso o transformou em um artista, ou, ele era um artista nato e daí sua sensibilidade. Uma de suas borboletas foi exposta em Portugal no Salão da Primavera.
                     E eu também tenho minhas borboletas visitantes. Em uma ocasião encontrei no chão uma com a asa meio danificada. Eu a peguei e andei com ela na mão até conseguir acomodá-la no galho de uma planta, de onde ela voou mais tarde.
                     Meu jardim é um motivo de alegria para meus olhos. Confesso que não se parece nem de longe com o de meu marido isto porque hoje tenho cinco cães que são minha companhia diária e meu desespero, pois estragam muitas coisas. Uma linda curiosidade. Enquanto escrevo as caturritas gritam em meu pátio loucamente nas árvores ao redor.
                 
 

                                                    Isabel C S Vargas
                                                    PelotasRSBrasil
                          


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